Contas da CP de 2013

Má gestão é notória

As contas da CP de 2013 re­sultam de uma po­lí­tica «as­tu­ci­o­sa­mente de­li­neada» para pri­va­tizar a em­presa, aca­bando com o trans­porte fer­ro­viário, so­cial e pú­blico, su­blinha a Co­missão de Tra­ba­lha­dores.

A CP perdeu 26,8 mi­lhões de pas­sa­geiros em quatro anos

Da aná­lise da Co­missão de Tra­ba­lha­dores ao Re­la­tório e Contas da CP de 2013 re­sulta uma con­clusão evi­dente: a banca está a san­grar as em­presas pú­blicas. O pro­cesso, que já vem de trás e tende a agravar-se, «es­conde a re­a­li­dade de uma ac­ti­vi­dade ope­ra­ci­onal equi­li­brada», mesmo com o cró­nico sub­fi­nan­ci­a­mento a que estas em­presas são su­jeitas por parte do Es­tado. No caso da CP, há ainda a ter conta as más op­ções de gestão – como o brutal au­mento de ta­rifas e a re­dução da oferta –, que im­pli­caram perda de pas­sa­geiros e re­ceitas. 
No n.º 118 do «À ta­bela», órgão da Co­missão de Tra­ba­lha­dores da CP, a com­pa­ração entre «os 72 mi­lhões de euros pagos em sa­lá­rios aos 2786 fer­ro­viá­rios da CP (efec­tivo médio de 2013)» e «os 200,8 mi­lhões pagos à banca em juros e rendas es­pe­cu­la­tivas» vinca bem a ideia de que os fer­ro­viá­rios pro­duzem e a banca de­vora.
A pro­xi­mi­dade com a banca é também des­ta­cada pela CT no caso dos «swap» (con­trato sobre o valor fu­turo da taxa de juro), que em 2013 re­gistam perdas po­ten­ciais de 69 mi­lhões de euros – o equi­va­lente a quase um ano de sa­lá­rios. Este valor é in­fe­rior ao de 2012 porque, en­tre­tanto, foram can­ce­lados três «swap» (com o Deutsche Bank, o BNP Pa­ribas e o Bar­clays), sem que, no en­tanto, a ad­mi­nis­tração da em­presa tenha con­se­guido, em mais de cem pá­ginas de re­la­tório, ar­ranjar um es­paço para dizer quantos mi­lhões pagou pelos can­ce­la­mentos.
Di­versos «swap» ainda estão ac­tivos, «sendo o mais sig­ni­fi­ca­tivo o que re­gista no final de 2013 ga­nhos po­ten­ciais para o BES de 62,5 mi­lhões de euros», sa­li­enta a CT, para re­cordar em se­guida todos os roubos nos sa­lá­rios dos tra­ba­lha­dores da CP, fun­da­mentar a jus­teza da sua luta e vincar a ne­ces­si­dade de uma outra po­lí­tica: há que parar de roubar a quem tra­balha e «co­meçar a re­cusar os pa­ga­mentos aos ban­queiros, es­pe­cu­la­dores, usu­rá­rios e de­mais pa­ra­sitas», afirma.

Perda de pas­sa­geiros e re­ceita


A con­ti­nui­dade da quebra na pro­cura é outro dos dados sig­ni­fi­ca­tivos que a aná­lise ao Re­la­tório e Contas de 2013 retém. Em quatro anos (2010-2013), o au­mento médio de preços foi de 21,4 por cento, o que, con­jun­ta­mente com a im­ple­men­tação de po­lí­ticas re­ces­sivas por parte do Go­verno – cortes nos ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores, au­mento brutal dos im­postos sobre os ren­di­mentos do tra­balho, entre ou­tras – e da ad­mi­nis­tração da CP – re­dução de efec­tivos, de­sin­ves­ti­mento na re­pa­ração e ma­nu­tenção do ma­te­rial cir­cu­lante, re­dução da oferta e en­cer­ra­mento de ser­viços –, con­duziu à perda de 26,8 mi­lhões de pas­sa­geiros.
Go­verno e ad­mi­nis­tração «lavam as mãos» e afirmam que a culpa é das greves. A CT, não ne­gando que a luta dos fer­ro­viá­rios tenha tido o seu im­pacto, nota como a maior quebra na pro­cura – nos ser­viços ur­banos, entre 2011 e 2012 – coin­cide com o brutal au­mento de preços e como em 2013, ano com muito menos greves que em 2012, se man­teve a ten­dência de perda. A ta­manha quebra de pas­sa­geiros cor­res­pondeu, no re­fe­rido pe­ríodo de quatro anos, uma quebra de re­ceitas (menos 6,06 mi­lhões de euros): «cada pas­sa­geiro paga mais 21 por cento em média, mas a em­presa acaba por re­ceber menos».

Ciclo vi­cioso


Em 2013, o que a CP pagou em juros (200 mi­lhões de euros) foi su­pe­rior ao pró­prio cres­ci­mento da dí­vida (177 mi­lhões). Entre 2009 e 2013, a dí­vida da em­presa cresceu 408 mi­lhões de euros, mas os en­cargos fi­nan­ceiros as­su­midos (juros, de­ri­vados e afins) as­cen­deram a 883 mi­lhões de euros. «Assim se de­monstra que hoje a dí­vida da CP se ali­menta a si mesma», afirma a CT, que con­si­dera que a em­presa pode ser per­fei­ta­mente equi­li­brada do ponto de vista eco­nó­mico e fi­nan­ceiro – con­tudo, não tem sido essa a opção dos su­ces­sivos go­vernos e seus ges­tores, que, por norma, só avançam «para o sa­ne­a­mento fi­nan­ceiro» das em­presas pú­blicas na vés­pera de as pri­va­ti­zarem. Urge romper com este ciclo.




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