Desigualdade aprofunda-se no mundo

Ricos mais ricos...

A dis­tri­buição da ri­queza mun­dial nunca foi tão as­si­mé­trica e de­verá agravar essa ten­dência até ao final deste ano, afirma a Oxfam. De­si­gual­dade para a qual con­tribui o de­sem­prego cró­nico que se ve­ri­fica.

99 por cento da po­pu­lação não de­terá, em 2016, tanta ri­queza quanta a acu­mu­lada por um por cento

Numa pro­jecção ela­bo­rada a pro­pó­sito da re­a­li­zação do Fórum Eco­nó­mico Mun­dial, a or­ga­ni­zação não go­ver­na­mental bri­tâ­nica con­clui que «a parte do pa­tri­mónio mun­dial de­tida pelos um por cento mais ricos passou de 44 por cento em 2009 para 48 por cento no ano pas­sado, e vai ul­tra­passar os 50 por cento no pró­ximo ano». Dito de outro modo, 99 por cento da po­pu­lação mun­dial (mais de sete mil mi­lhões de pes­soas) não de­terá, em 2016, tanta ri­queza quanta a acu­mu­lada por uma elite de sete mi­lhões de afor­tu­nados, algo que para o pre­si­dente da Oxfam cons­titui uma «ver­ti­gi­nosa am­pli­tude das de­si­gual­dades».

«O fosso entre as grandes for­tunas e o resto da po­pu­lação au­menta ra­pi­da­mente», ad­mite Winnie Byanyima, antes de su­gerir que, na ci­meira que de­corre em Davos, na Suíça, até ao pró­ximo sá­bado, iria alertar os di­ri­gentes glo­bais para o facto de «os in­te­resses par­ti­cu­lares dos pesos pe­sados» serem «um obs­tá­culo para um mundo mais justo e mais prós­pero». Isto porque, con­si­derou, «a de­si­gual­dade não é apenas con­de­nável, mas um travão ao cres­ci­mento eco­nó­mico, su­pondo, por isso, uma ameaça à ac­ti­vi­dade em­pre­sa­rial».

Não deixa de ser cu­rioso que Byanyima as­suma o com­pro­misso de ad­vertir os prin­ci­pais go­ver­nantes reu­nidos em Davos, jus­ta­mente porque, se­gundo cál­culos di­vul­gados pela pró­pria Oxfam, as grandes cor­po­ra­ções em­pre­sa­riais in­ves­tiram, em 2013, qual­quer coisa como 550 mi­lhões de dó­lares em «in­fluência po­lí­tica» sobre as de­ci­sões e ori­en­ta­ções de Bru­xelas e Washington. Du­rante a cam­panha elei­toral para a pre­si­dência norte-ame­ri­cana, em 2012, os pri­vados foram res­pon­sá­veis por 571 mi­lhões de dó­lares em con­tri­butos, afirma também a or­ga­ni­zação bri­tâ­nica.

Pa­li­a­tivos

Na apre­sen­tação do es­tudo, se­gunda-feira, 19, a di­ri­gente da Oxfam exortou, ainda, os es­tados a im­ple­men­tarem uma série de me­didas que mi­ti­guem o abismo entre ricos e po­bres, tais como o com­bate à evasão fiscal, pro­moção dos ser­viços pú­blicos gra­tuitos, maior ta­xação do ca­pital acom­pa­nhada de alívio do con­fisco dos ren­di­mentos do tra­balho, cri­ação de sis­temas de pro­tecção so­cial ou fi­xação de sa­lá­rios mí­nimos.

O ano pas­sado, a Oxfam re­portou que os 85 mais ricos do mundo pos­suíam tanta ri­queza como me­tade da po­pu­lação do pla­neta. Neste mo­mento, afirma a ONG, a re­lação passou a ser de 80 mul­ti­mi­li­o­ná­rios para 3,5 bi­liões de seres hu­manos.

A cor­rente fase da crise do ca­pi­ta­lismo agravou o ce­nário, dado que, em 2010, o total de in­di­ví­duos que de­tinha uma for­tuna con­junta equi­va­lente à soma da de­tida por me­tade da po­pu­lação mun­dial era de 388. Entre 2009 e 2014, as 80 pes­soas mais ricas viram a sua ri­queza con­junta du­plicar.

Fu­turo em­bar­gado

Pa­ra­le­la­mente ao es­tudo da Oxfam, as Na­ções Unidas re­ve­laram dados que in­dicam que 60 por cento dos jo­vens nem tra­balha nem es­tuda. No total, são 73,4 mi­lhões de de­so­cu­pados nesta faixa etária em todo o mundo, diz o Fundo da Po­pu­lação da ONU. Isto é, cerca de 40 por cento do total de de­sem­pre­gados têm menos de 25 anos.

Os jo­vens en­con­tram-se também sobre-ex­postos à ex­plo­ração. Tanto mais que, na sua mai­oria, os que se en­con­tram em­pre­gados tra­ba­lham com vín­culos pre­cá­rios e mal re­mu­ne­rados.

Nos países da OCDE, muitos dos quais grandes po­tên­cias im­pe­ri­a­listas, o ce­nário não é me­lhor. Em 2014, es­ti­veram sem tra­balho du­rante mais de 12 meses 16,3 mi­lhões de pes­soas, o dobro do ve­ri­fi­cado em 2007. Ac­tu­al­mente estão de­sem­pre­gados 45 mi­lhões, mais 12 mi­lhões do que nesse ano.

A Or­ga­ni­zação In­ter­na­ci­onal do Tra­balho, por seu lado, chamou a atenção para o pre­vi­sível au­mento do de­sem­prego em pelo menos 11 mi­lhões de in­di­ví­duos até 2019, quando, sa­li­enta, mais de 219 mi­lhões de pes­soas podem en­con­trar-se de­sem­pre­gadas em todo o mundo.

A OIT pro­jecta, por isso, um cres­ci­mento das de­si­gual­dades ao nível mun­dial em re­sul­tado de uma «crise do em­prego que está longe de estar ter­mi­nada». Crise, acres­centou o di­rector-geral da or­ga­ni­zação an­te­ontem, que se ar­rasta desde 2008. De então para cá, 61 mi­lhões de postos de tra­balho foram des­truídos, su­blinha Guy Ryder, para quem «as po­lí­ticas de aus­te­ri­dade, em par­ti­cular na Eu­ropa, con­tri­buíram para o au­mento es­pec­ta­cular do de­sem­prego».

Ryder destoa da de­fesa do­mi­nante das ac­tuais ori­en­ta­ções po­lí­ticas e con­si­dera que «a aus­te­ri­dade» não era ine­vi­tável.




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