Moçambique reforça relações

Carlos Lopes Pereira

Em vés­peras de fes­tejar 40 anos de in­de­pen­dência na­ci­onal, Mo­çam­bique in­ten­si­fica as re­la­ções re­gi­o­nais e con­ti­nen­tais.

O pre­si­dente Fi­lipe Nyusi es­teve três dias na Tan­zânia, vi­zinha a Norte e aliada da Fre­limo nos anos 60 e 70, du­rante a luta eman­ci­pa­lista contra o co­lo­ni­a­lismo.

Nessa vi­sita, a con­vite do ho­mó­logo tan­za­niano, Ja­kaya Kikwete, o di­ri­gente mo­çam­bi­cano as­sistiu a um fórum eco­nó­mico em Dar-es-Sa­laam, dis­cursou pe­rante o par­la­mento na ca­pital po­lí­tica, Do­doma, e des­locou-se à ilha de Zan­zibar.

Para além do re­forço da co­o­pe­ração eco­nó­mica entre os dois países, Nyusi ex­plicou aos go­ver­nantes tan­za­ni­anos a si­tu­ação em Mo­çam­bique, no quadro do novo ciclo saído das elei­ções de Ou­tubro de 2014. E, se­gundo o jornal No­tí­cias, de Ma­puto, as­se­gurou du­rante um en­contro com di­plo­matas afri­canos em Dar-es-Sa­laam que «Mo­çam­bique está calmo e es­tável».

Nyusi e a Fre­limo ven­ceram as elei­ções, con­si­de­radas pela co­mu­ni­dade in­ter­na­ci­onal «justas e trans­pa­rentes», e, hoje, as ins­ti­tui­ções, in­cluindo o par­la­mento, fun­ci­onam nor­mal­mente. Mas Afonso Dh­la­kama, líder da Re­namo, a se­gunda força po­lí­tica, exige «au­to­nomia» para as pro­vín­cias onde con­quistou mais votos, questão de­li­cada que o go­verno mo­çam­bi­cano tem pro­cu­rado gerir «com o es­forço cen­trado no diá­logo».

A ne­ces­si­dade de pre­ser­vação da paz e de con­so­li­dação da uni­dade na­ci­onal para pros­se­guir o de­sen­vol­vi­mento – prevê-se em 2015 um cres­ci­mento de 7,5 por cento do PIB, em linha com os nú­meros da úl­tima dé­cada – tem sido um dos temas per­ma­nentes do dis­curso do pre­si­dente mo­çam­bi­cano.

Dentro de poucas se­manas, a 25 de Junho, Mo­çam­bique co­me­mora o 40.º ani­ver­sário da in­de­pen­dência. Desde já, uma sim­bó­lica Chama da Uni­dade per­corre al­deias, vilas e ci­dades, de Norte para Sul, enal­te­cendo os va­lores da paz, do pa­tri­o­tismo e da uni­dade mo­çam­bi­cana.

Re­gres­sado da Tan­zânia, Nyusi re­cebe esta se­mana o pre­si­dente Jacob Zuma, da África do Sul, outro vi­zinho e aliado de Mo­çam­bique. A vi­sita «en­quadra-se no con­texto do for­ta­le­ci­mento e apro­fun­da­mento das re­la­ções de ir­man­dade, ami­zade e co­o­pe­ração» entre os dois países, bem como «no re­forço da co­o­pe­ração bi­la­teral, nos do­mí­nios po­lí­tico, eco­nó­mico e so­cial de in­te­resse mútuo» e no âm­bito re­gi­onal da SADC (Co­mu­ni­dade de De­sen­vol­vi­mento da África Aus­tral).

Da agenda das con­ver­sa­ções entre os pre­si­dentes Nyusi e Zuma e de­le­ga­ções fará parte de­certo a questão da emi­gração de tra­ba­lha­dores mo­çam­bi­canos para as minas sul-afri­canas. Re­cen­te­mente, uma onda de vi­o­lência xe­nó­foba nas zonas de Durban e Jo­a­nes­burgo forçou mi­lhares de afri­canos a aban­donar a África do Sul e a re­gressar aos seus países. Entre esses imi­grantes mal­tra­tados con­tavam-se ci­da­dãos do Ma­lawi, do Zim­babwe e de Mo­çam­bique.

Oba­sanjo em Ma­puto

No âm­bito desta mul­ti­fa­ce­tada ac­ti­vi­dade po­lí­tico-di­plo­má­tica pro­mo­vida pelos go­ver­nantes mo­çam­bi­canos, passou há dias por Ma­puto o ge­neral Olu­segun Oba­sanjo. An­tigo pre­si­dente da Ni­géria, é uma fi­gura res­pei­tada em África, um «sábio», muitas vezes cha­mado pela União Afri­cana para en­ca­beçar ob­ser­va­dores em elei­ções ou in­ter­me­diar con­flitos entre países ou fac­ções.

Oba­sanjo foi por­tador de um con­vite ao pre­si­dente Nyusi para as­sistir à ce­ri­mónia de posse do novo pre­si­dente da Ni­géria, Muham­madu Buhari, pre­vista para 29 de Maio, em Abuja. Em de­cla­ra­ções à im­prensa, con­si­derou «aber­ra­ções» e «pas­sa­geiros» os con­flitos em África pro­vo­cados pela não acei­tação de re­sul­tados elei­to­rais, já que tais con­flitos não re­pre­sentam, antes con­tra­riam, a von­tade de paz dos povos.

«Ti­vemos elei­ções aqui [em Mo­çam­bique] e de­cor­reram bem, se­guiram as normas le­gais. Ti­vemos elei­ções em 15 ou­tros países da África, acabo de estar como ob­ser­vador no Sudão, houve elei­ções também no Togo. Mesmo que haja uma si­tu­ação anó­mala, que não se uti­lize um único caso para julgar a África. Pre­firo ver isso como uma aber­ração, que pas­sará. Tais con­flitos já não têm lugar em África», de­fendeu Oba­sanjo.

O velho ge­neral não se re­feriu ex­pli­ci­ta­mente à si­tu­ação no Bu­rundi, o mais re­cente destes con­flitos pré ou pós-elei­to­rais. De­pois de se­manas de ma­ni­fes­ta­ções po­pu­lares contra a re­can­di­da­tura de Pi­erre Nku­run­ziza a um ter­ceiro man­dato pre­si­den­cial, re­gistou-se uma ten­ta­tiva de golpe de es­tado mi­litar.

Apro­vei­tando a au­sência do pre­si­dente em Dar-es-Sa­laam, aonde as­sistia pre­ci­sa­mente a uma ci­meira sobre a si­tu­ação no seu país, al­guns ge­ne­rais ten­taram der­rubá-lo. Houve com­bates entre gol­pistas e tropas leais ao go­verno, com a vi­tória dos apoi­antes de Nku­run­ziza e a fuga ou prisão dos re­vol­tosos.

Após o golpe fa­lhado, o pre­si­dente re­mo­delou o go­verno, as ma­ni­fes­ta­ções anti-Nku­run­ziza re­gres­saram às ruas dos bairros da pe­ri­feria de Bu­jum­bura e vá­rios di­ri­gentes afri­canos pe­diram o adi­a­mento das elei­ções.




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