É preciso fazer ouvir a nossa voz

Anabela Fino

Sem in­ge­nui­dades, pode dizer-se que a grande no­vi­dade seria, se por acaso tal ocor­resse – hi­pó­tese tão re­mota que quase se po­deria dizer do do­mínio da ficção – a grande no­vi­dade, re­pete-se, seria se a Festa do Avante! fosse tra­tada na ge­ne­ra­li­dade dos ór­gãos da co­mu­ni­cação so­cial com o des­taque de­vido a uma ini­ci­a­tiva po­lí­tico-cul­tural da sua di­mensão. Não foi. O que su­cedeu foi um si­len­ci­a­mento e ocul­ta­mento ainda maior do que o re­gis­tado em anos an­te­ri­ores, re­su­mindo um acon­te­ci­mento que mo­bi­liza du­rante três dias mi­lhares e mi­lhares de pes­soas a breves apon­ta­mentos sobre as in­ter­ven­ções do Se­cre­tário-geral do Par­tido e a uma ou outra imagem em que a imensa massa hu­mana que es­teve na Ata­laia prima pela au­sência.

Mas a in­for­mação não foi apenas so­ne­gada. Houve de­sin­for­mação, sim, e de­tur­pação des­ca­rada, como a pro­du­zida pela SIC No­tí­cias (?), que chegou ao ri­dí­culo de afirmar que «cen­tenas de pes­soas as­sis­tiram aos con­certos no Palco 25 de Abril». Em con­tra­ponto, foi no­tícia o facto, que nem se­quer é novo, de Mar­celo Re­belo de Sousa ter es­tado na Festa. Co­men­tá­rios para quê?

Também o co­mício de en­cer­ra­mento da Festa – a co­meçar pela maré cheia de gente que trans­bordou do re­cinto do Palco 25 de Abril para todas, re­pete-se, todas as ala­medas ad­ja­centes, e a im­por­tante in­ter­venção de Je­ró­nimo de Sousa e res­tantes ora­dores, que se trans­creve nas pá­ginas se­guintes – foi es­con­dido do povo por­tu­guês. De­li­be­ra­da­mente. Para que a men­sagem dos co­mu­nistas não passe. Para que a ver­dade sobre as causas e os res­pon­sá­veis do es­tado em que o País se en­contra não chegue aos elei­tores. Para que não se saiba – ou se saiba o menos pos­sível – que existe al­ter­na­tiva à po­lí­tica de di­reita, tra­du­zida nas lutas de hoje pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e por uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, e que há forças bas­tantes para a levar a cabo.

Como disse Je­ró­nimo de Sousa, o PCP afirma hoje, como sempre afirmou, que «na Eu­ropa existem forças su­fi­ci­entes para tri­lhar ou­tros ca­mi­nhos. Ca­mi­nhos que re­jeitam o es­ma­ga­mento das so­be­ra­nias na­ci­o­nais, a ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores e a de­la­pi­dação dos re­cursos e ri­quezas dos países. Ou­tros ca­mi­nhos que são ne­ces­sá­rios e pos­sí­veis. Que se tri­lham com co­ragem, com prin­cí­pios, ver­dade e de­ter­mi­nação, le­vando a cabo as rup­turas ne­ces­sá­rias!»

Pe­ri­gosa men­sagem, esta, em vés­peras de elei­ções, em que a todo o custo é pre­ciso fazer es­quecer que foram «PSD, PS e CDS que en­tre­garam o País às mãos do es­tran­geiro e ao seu pro­grama de saque e ter­ro­rismo so­cial»; que foi com a sua ac­tiva co­ni­vência que «im­pu­seram a po­lí­tica de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento dos tra­ba­lha­dores, do nosso povo e o saque do pa­tri­mónio do País a que temos vindo a as­sistir e que pre­tendem con­ti­nuar»; que Por­tugal é hoje «um País mais em­po­bre­cido, mais frágil, mais de­pen­dente» de­vido à sua «po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal, de re­cu­pe­ração ca­pi­ta­lista e res­tau­ração mo­no­po­lista».

Acima de tudo é pre­ciso im­pedir que se saiba que a «agu­di­zação da luta de classes e a na­tu­reza cada vez mais ex­plo­ra­dora, opres­siva, agres­siva e pre­da­dora do ca­pi­ta­lismo evi­dencia, cada vez mais, a ac­tu­a­li­dade e im­por­tância do pro­jecto co­mu­nista, de uma so­ci­e­dade nova, o so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo».

Cabe-nos a todos levar a cada canto esta men­sagem. Para que se faça sentir nas urnas, a 4 de Ou­tubro, em votos na CDU e em todas as ba­ta­lhas que temos pela frente.

 



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