José Reinaldo Carvalho, do PC do Brasil

Defesa da democracia exige frente de esquerda

Anabela Fino

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O Brasil está a viver um pe­ríodo con­tur­bado, com os sec­tores de di­reita e ex­trema-di­reita a or­ques­trarem um ataque cer­rado à pre­si­dente Dilma Rous­seff, ao mesmo tempo que os sec­tores de­mo­crá­ticos, or­ga­ni­za­ções sin­di­cais e mo­vi­mentos so­ciais exigem o re­gresso ao pro­grama de me­didas de­mo­crá­ticas em que vo­taram. Para José Rei­naldo Car­valho, se­cre­tário in­ter­na­ci­onal do PCdoB – par­tido que in­tegra a co­li­gação que levou Dilma ao poder – a si­tu­ação deve-se à con­ju­gação de dois fac­tores. O pri­meiro ra­dica no facto de «as opo­si­ções con­ser­va­doras e ne­o­li­be­rais» terem for­mado uma es­pécie de «con­sórcio opo­si­ci­o­nista» que in­tegra os ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nantes, o grande ca­pital e os par­tidos de di­reita, «que não aceitou o re­sul­tado das elei­ções».

Fa­zendo notar que esta é a «quarta vi­tória con­se­cu­tiva do PT», cujo go­verno levou ao apro­fun­da­mento da de­mo­cracia e ao de­sen­vol­vi­mento de po­lí­ticas so­ci­al­mente justas, José Rei­naldo lembra que, logo a se­guir às elei­ções de 2014, a opo­sição tentou ex­plorar o facto de a vi­tória de Dilma ter sido por uma margem de votos mais pe­quena para fazer crer que «não era le­gí­tima», che­gando mesmo a apre­sentar queixa por «fraude», que viria a ser ar­qui­vada pelo Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal. O ob­jec­tivo, diz o di­ri­gente co­mu­nista, era levar a cabo um «golpe ins­ti­tu­ci­onal ile­gí­timo», já que na ac­tual con­jun­tura o im­pe­ri­a­lismo não está in­te­res­sado num golpe mi­litar como su­cedeu no pas­sado. Em si­mul­tâneo, a opo­sição tentou apre­sentar-se como pa­la­dina do com­bate à cor­rupção, que seria obra do PT e do go­verno, quando na ver­dade as forças de di­reita têm aí res­pon­sa­bi­li­dades acres­cidas. «Há factos reais e erros, mas ins­tru­men­ta­li­zaram isso», afirma José Rei­naldo.

 

O se­gundo as­pecto, diz, «tem a ver com a in­sa­tis­fação po­pular, que con­si­dera in­su­fi­ci­entes as me­didas to­madas». Para o res­pon­sável do PCdoB, se é um facto ine­gável que as po­lí­ticas se­guidas nos úl­timos anos se tra­du­ziram por uma im­por­tante re­dução da po­breza, pelo au­mento do ren­di­mento das fa­mí­lias, por mais e me­lhores ser­viços so­ciais do Es­tado, também é ver­dade que o «povo se tornou mais exi­gente e quer mais».

O pro­blema é que «desde Lula, o go­verno não foi capaz de im­plantar um novo mo­delo eco­nó­mico, seja por opção po­lí­tica seja por in­ca­pa­ci­dade».

Para o PCdoB, a si­tu­ação do país «evi­dencia os li­mites» do ca­minho que tem sido se­guido. «O PT nunca foi capaz de formar uma mai­oria par­la­mentar», o que o levou a fazer «ali­anças ao centro», a «com­pro­missos com forças que não estão dis­postas à mu­dança» lembra José Rei­naldo, ad­mi­tindo que se pode «chegar a um im­passe». No en­tanto «ainda não temos forças para o em­bate», su­blinha, pelo que é es­sen­cial a luta em de­fesa da de­mo­cracia e para que Dilma cumpra o man­dato.

O res­peito pelo man­dato pre­si­den­cial não é isento de crí­ticas. «O novo man­dato de Dilma foi mar­cado por um re­tro­cesso em re­lação ao an­te­rior, o rombo fiscal levou a ajustes que se tra­du­ziram em “aus­te­ri­dade”, que sig­ni­ficou perda de di­reitos, menos ren­di­mentos, mais de­sem­prego...», o que na­tu­ral­mente exige um grande tra­balho junto das massas po­pu­lares para que se mo­bi­lizem na de­fesa e apro­fun­da­mento das con­quistas al­can­çadas.

Numa al­tura em que a Câ­mara dos De­pu­tados acaba de re­jeitar al­gumas das prin­ci­pais emendas apro­vadas no Se­nado à cha­mada re­forma elei­toral, de­sig­na­da­mente o fi­nan­ci­a­mento dos par­tidos po­lí­ticos pelas em­presas – o que trans­forma al­guns de­pu­tados em «des­pa­chantes de luxo dos in­te­resses eco­nó­micos e está na origem da cor­rupção dos par­tidos bra­si­leiros» que aceitam esse pa­tro­cíno, se­gundo José Rei­naldo – o PCdoB ad­voga que a de­fesa da de­mo­cracia passa no mo­mento ac­tual pela es­ta­bi­li­dade e pelo res­peito pela le­ga­li­dade do man­dato saído das urnas.

Va­lo­ri­zando os fó­runs de de­bate que Dilma Rous­seff está a pro­mover com os mais di­versos sec­tores da so­ci­e­dade bra­si­leira, o di­ri­gente do PCdoB con­si­dera que, para além de pro­pi­ci­arem o diá­logo com os par­tidos e os mo­vi­mentos so­ciais, podem ser o «em­brião para a frente ampla» de­fen­dida pelo seu par­tido. Na «ali­ança go­ver­na­tiva é pre­ciso re­forçar uma ampla frente de es­querda, com um nú­cleo de es­querda, com um pro­grama para a re­forma de­mo­crá­tica» nas suas ver­tentes po­lí­tica, eco­nó­mica, so­cial – re­fere. O que passa pela uni­ver­sa­li­dade dos di­reitos, por re­formas no sis­tema ju­di­cial, tri­bu­tário – com im­postos pro­gres­sivos sobre as grandes for­tunas – dos media, pela re­forma agrária, pela re­forma ur­bana... «É um pro­cesso. E o acu­mular de forças para 2018».

 



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