Cai a máscara

Anabela Fino

A his­teria co­lec­tiva que tomou conta da di­reita em Por­tugal face a um hi­po­té­tico en­ten­di­mento do PS com o PCP e o BE, com vista à for­mação de um go­verno com apoio mai­o­ri­tário no Par­la­mento, trouxe à su­per­fície o anti-co­mu­nismo mais pri­mário que se possa ima­ginar e fez es­talar – nal­guns casos com grande sur­presa de muitos – o verniz de­mo­crá­tico com que um certo nú­mero de fi­guras pú­blicas andou dis­far­çado desde sempre.

Vemos, ou­vimos e lemos e o re­sul­tado é sempre o mesmo: os que se con­si­deram donos da opi­nião pú­blica por terem as­sento à mesa dos donos da opi­nião pu­bli­cada estão não só à beira de um ataque de nervos mas po­si­ti­va­mente em pâ­nico. Só falta mesmo pe­direm a in­ter­venção da NATO – como su­cedeu nou­tras la­ti­tudes – para evitar a todo o custo a con­cre­ti­zação do seu maior pe­sa­delo, a saber, a for­mação de um go­verno que não tenha como pri­o­ri­dade servir o ca­pital.

Até pa­rece, em­bora seja al­ta­mente im­pro­vável, que al­guns destes fa­ze­dores de opi­nião caíram na pró­pria ar­ma­dilha de iludir in­cautos e fi­caram presos no la­bi­rinto da sua de­ma­gogia. De tanto cla­marem que as elei­ções le­gis­la­tivas «são para pri­meiro-mi­nistro» pa­recem ter es­que­cido que em Por­tugal o que de facto se elege são de­pu­tados à As­sem­bleia da Re­pú­blica, pelo que razão tem o PCP ao su­bli­nhar re­pe­ti­da­mente a uti­li­dade de cada voto na CDU, pois com votos se elege de­pu­tados e com o nú­mero de de­pu­tados eleitos se de­ter­mina a com­po­sição po­lí­tica do Par­la­mento. De tanto ro­tu­larem o PCP de «par­tido do pro­testo» sem vo­cação para o poder, pa­recem ter-se con­ven­cido que isso é uma ver­dade in­so­fis­mável. De tanto de­cre­tarem que o «arco da go­ver­nação» se es­gota no trio PS/​PSD/​CDS, pa­recem ter dado como certo que a «de­mo­cracia» em que se acon­chegam não pode ja­mais con­tem­plar ou­tras pos­si­bi­li­dades.

Con­fron­tados com o facto de o País não ser como o pintam e com a mera pos­si­bi­li­dade – mera pos­si­bi­li­dade, su­blinhe-se – de o PS fi­nal­mente aceitar con­tri­buir para uma al­ter­na­tiva à al­ter­nância, a di­reita mostra a sua ver­da­deira face. Há muito que não se via por cá, de forma tão os­ten­siva, o cair de tanta más­cara. Fossem elas de vidro e man­daria a pru­dência muita atenção onde se põe os pés.

 



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