Cuba

Solidariedade e esclarecimento

A vi­sita de Ba­rack Obama a Cuba sig­ni­ficou uma im­por­tante vi­tória da­quele povo, mas há ainda um longo ca­minho a per­correr para a nor­ma­li­zação das re­la­ções, vincou-se em duas ini­ci­a­tivas re­a­li­zadas a se­mana pas­sada em Por­tugal.

Cuba exige o fim do blo­queio e a de­vo­lução de Guan­tá­namo

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A sessão pú­blica ocor­rida sexta-feira, 1 de Abril, na Fa­cul­dade de Le­tras da Uni­ver­si­dade de Lisboa, e a con­fe­rência re­a­li­zada do­mingo, 3, na Câ­mara Mu­ni­cipal de Évora – ambas pro­mo­vidas pela As­so­ci­ação de Ami­zade Por­tugal-Cuba (AAPC) e con­tando com a par­ti­ci­pação de mem­bros da sua di­recção, bem como com a pre­sença da em­bai­xa­dora da Re­pú­blica de Cuba em Lisboa, Johana Ta­blada, e, no úl­timo caso, também com a par­ti­ci­pação de Ângelo Alves, da Co­missão Po­lí­tica do Co­mité Cen­tral do PCP – con­cre­tizam a ne­ces­si­dade de re­forçar a so­li­da­ri­e­dade com Cuba. Em causa está o apoio a um país e a um povo que re­sistem há dé­cadas a um feroz blo­queio im­posto uni­la­teral e ile­gal­mente pelos EUA, es­cla­recer sobre as ques­tões es­sen­ciais que im­pedem a nor­ma­li­zação das re­la­ções entre os dois países, e sa­li­entar que a ac­tual si­tu­ação re­pre­senta um triunfo da per­sis­tência e dig­ni­dade do povo e da di­recção po­lí­tica cu­banos.

Na pri­meira ini­ci­a­tiva, o mote foram as re­la­ções entre Cuba e os EUA e a vi­sita do pre­si­dente norte-ame­ri­cano à ilha so­ci­a­lista; na se­gunda, foram os 54 anos de gar­rote eco­nó­mico, fi­nan­ceiro e co­mer­cial apli­cado por Washington. Ques­tões cuja in­dis­so­ci­a­bi­li­dade a des­lo­cação de Ba­rack Obama re­alçou, pese em­bora «o grande sig­ni­fi­cado po­lí­tico para Cuba e para os EUA» da­quele acon­te­ci­mento, e do «sinal de sen­tido po­si­tivo nas re­la­ções entre os dois países e povos» que ele traduz, con­si­dera a AAPC.

Com efeito, adi­antou a AAPC nas ses­sões ocor­ridas em Lisboa e Évora, «esta vi­sita não ma­te­ri­a­liza, como al­guns ten­taram fazer crer, uma inau­dita aber­tura de Cuba ao diá­logo com os EUA ou uma clau­di­cação face ao seus ob­jec­tivos. Pelo con­trário, o ob­jec­tivo, dis­po­ni­bi­li­dade e von­tade de nor­ma­li­zação de re­la­ções sempre foi afir­mado pelas au­to­ri­dades cu­banas. Trata-se, em bom rigor, de uma al­te­ração mas na pos­tura dos EUA que há mais de meio sé­culo op­taram por uma inin­ter­rupta pos­tura de con­fron­tação di­recta e guerra contra Cuba. Pos­tura que agora re­co­nhecem não ter sur­tido os ob­jec­tivos que de­se­jaram os ini­migos de Cuba».

Nor­ma­li­zação
das re­la­ções

«Como as au­to­ri­dades cu­banas afir­maram ainda antes da vi­sita, esta foi re­a­li­zada num am­bi­ente de res­peito mútuo e de acordo com o prin­cípio ba­silar que Cuba sempre de­fendeu: um diá­logo de igual para igual», acres­centa a AAPC, que re­leva a im­por­tância deste «facto po­lí­tico». Isso não sig­ni­fica ig­norar «as grandes di­fe­renças e dis­cor­dân­cias entre os dois es­tados, bem como ele­mentos de in­ge­rência, de “co­lo­ni­zação ide­o­ló­gica” e de ten­ta­tiva de di­visão do povo cu­bano que não es­ti­veram au­sentes dos dis­cursos e ac­ções do pre­si­dente Ba­rack Obama du­rante a sua es­tadia em Cuba».

A AAPC alerta, assim, que «a vi­sita de Ba­rack Obama não al­terou sig­ni­fi­ca­ti­va­mente a po­lí­tica ofi­cial dos EUA face a Cuba», e adi­anta duas con­di­ções es­sen­ciais para a nor­ma­li­zação das re­la­ções entre aqueles:

«Qual­quer re­lação fu­tura entre os EUA e Cuba tem de ser cons­truída não na base do es­que­ci­mento do pas­sado, como re­feriu Obama, mas na aná­lise e crí­tica sé­rias desse pas­sado para que, com ve­lhas ou novas rou­pa­gens, não se pro­lon­guem ou in­ten­si­fi­quem po­lí­ticas de in­ge­rência e pressão ten­dentes pro­vocar tensão e de­ses­ta­bi­li­zação in­terna em Cuba».

«Para per­correr esse ca­minho [da nor­ma­li­zação da re­la­ções], é obri­ga­tório re­mover al­guns dos prin­ci­pais obs­tá­culos que se lhe co­locam», de­sig­na­da­mente «o le­van­ta­mento do blo­queio bem como toda a le­gis­lação norte-ame­ri­cana co­nexa; o fim da ocu­pação da base mi­litar de Guan­tá­namo e a de­vo­lução ao povo cu­bano da­quele ter­ri­tório; a não in­ter­fe­rência, por via das re­la­ções co­mer­ciais e eco­nó­micas, nas de­ci­sões es­tra­té­gicas da eco­nomia cu­bana; o fim das ma­no­bras de in­ge­rência ex­terna contra Cuba, no­me­a­da­mente o fi­nan­ci­a­mento (ilegal à luz do Di­reito In­ter­na­ci­onal) a grupos ou or­ga­ni­za­ções que têm como único fim a de­ses­ta­bi­li­zação in­terna».

Assim, «a so­li­da­ri­e­dade para com o povo cu­bano e a sua re­vo­lução é mais ne­ces­sária do que nunca pe­rante as novas e exi­gentes re­a­li­dades», con­clui a AAPC.

 



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