Eles andam aí!

João Frazão

Acan­tonam-se na fron­teira à es­pera da pri­meira opor­tu­ni­dade de atacar, estão pro­te­gidos atrás dos muros de ve­tustas e cre­dí­veis ins­ti­tui­ções, exibem tí­tulos e ex­pe­ri­ên­cias (quase sempre mal su­ce­didas, como o mundo pode com­provar), mos­trando-se sempre dis­po­ní­veis para dizer das suas ra­zões, di­zendo quase sempre, e há muito tempo, o mesmo.

São os Re­for­meiros. Vêm dos lados da Eu­ropa, da Co­missão Eu­ro­peia e do BCE , mas também do outro lado do mundo do FMI, da OCDE ou dos G7, G8, G20, e mais o que qui­serdes. Vêm de longe, mas têm os seus pu­pilos em ter­ri­tório na­ci­onal, ins­ta­lados nos go­vernos e em certas opo­si­ções.

En­chem a boca de re­formas es­tru­tu­rais e falam das re­formas do Es­tado, da Jus­tiça, da Se­gu­rança So­cial, das Leis La­bo­rais, das Leis Elei­to­rais, da Cons­ti­tuição.

Esta se­mana aí vi­eram de novo, com Mario Draghi como fi­gura de proa. Veio, no seu papel de Re­for­meiro Maior da Con­fraria, dizer ao nosso povo que tudo o que so­fremos – os sa­cri­fí­cios, a ex­plo­ração, os roubos – não é ainda su­fi­ci­ente.

Veio dizer o que já se es­pe­rava, que o que foi feito pelo an­te­rior go­verno foi muito bem feito e que é pre­ciso não parar a «Agenda Re­for­mista» pois falta ainda, pelo menos, a Re­forma das leis la­bo­rais e da Cons­ti­tuição.

Com­pre­ende-se. Eles, os Re­for­meiros, não com­pre­endem, não aceitam, e, de todo, não per­doam que em Por­tugal tenha ha­vido uma Re­vo­lução, que abriu as portas a trans­for­ma­ções pro­gres­sistas, re­vo­lu­ci­o­ná­rias (passe o ple­o­nasmo) que in­verteu a dis­tri­buição da ri­queza no nosso País, que ga­rantiu a su­pe­ração de cró­nicos atrasos de dé­cadas a que o fas­cismo con­denou o País, que as­se­gurou um país com am­plas li­ber­dades e com um sis­tema de­mo­crá­tico ímpar no con­texto Eu­ropeu.

E por isso querem pros­se­guir a des­truição dessas con­quistas, pro­cesso em que estão em­pe­nhados desde o mo­mento em que elas foram al­can­çadas.

Apos­tados que estão em atacar a crise com a mesma re­ceita de sempre, mais ex­plo­ração e maior con­cen­tração da ri­queza, os Re­for­meiros põem tanto mais em­penho na sua con­versa da treta, quanto mais firme é a re­sis­tência dos povos e das forças con­se­quentes em cada país.

É por isso que não nos largam a porta!




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