Venezuela

Pedro Guerreiro

Ina­cei­tável in­ge­rência ex­terna contra um Es­tado so­be­rano

Todas as grandes ope­ra­ções de de­ses­ta­bi­li­zação re­a­li­zadas pelo im­pe­ri­a­lismo foram an­te­ci­padas e acom­pa­nhadas por cam­pa­nhas de de­sin­for­mação e ma­ni­pu­lação, com as quais pro­cura ocultar os seus reais ob­jec­tivos e acção, assim como des­cre­di­bi­lizar e isolar a sua ví­tima, de modo a neu­tra­lizar a na­tural ex­pressão de re­jeição (e so­li­da­ri­e­dade) face à ina­cei­tável in­ge­rência ex­terna contra um Es­tado so­be­rano e o seu povo – a Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela não é ex­cepção.

O pro­cesso bo­li­va­riano, ini­ciado em 1998/​99 com a eleição de Hugo Chavez a Pre­si­dente da Ve­ne­zuela, não teve um mo­mento de tré­guas. As grandes trans­for­ma­ções de­mo­crá­ticas que le­varam a que mi­lhões de ve­ne­zu­e­lanos ti­vessem acesso à saúde, à edu­cação, à água po­tável, à energia eléc­trica, à ha­bi­tação, à cul­tura, o seu pro­fundo e amplo pro­jecto so­be­rano e eman­ci­pador, es­trei­ta­mente vin­cu­lado à eman­ci­pação da Amé­rica La­tina e Ca­raíbas e à sua co­o­pe­ração so­be­rana e so­li­dária – de que a ALBA-TCP é con­quista maior –, ti­veram que ser cons­tan­te­mente de­fen­didos pelo povo ve­ne­zu­e­lano, pe­rante a per­ma­nente acção de­ses­ta­bi­li­za­dora, vi­o­lenta e gol­pista dos Es­tados Unidos e da oli­gar­quia in­terna.

Esta acção re­cru­desceu pe­rante a eleição do pre­si­dente Ni­colás Ma­duro, em 2013, e com os efeitos da crise do ca­pi­ta­lismo a atin­girem a eco­nomia ve­ne­zu­e­lana – no­me­a­da­mente, com a sig­ni­fi­ca­tiva re­dução do preço do pe­tróleo, de que este país é ex­por­tador, pos­suindo das mais im­por­tantes re­servas ao nível mun­dial.

Acção de in­ge­rência e de­ses­ta­bi­li­zação de que são ex­pressão re­cente: a der­ro­tada in­ten­tona gol­pista de 2014, que pro­vocou de­zenas de mortos e cen­tenas de fe­ridos e cujos res­pon­sá­veis se en­con­tram jus­ta­mente de­tidos; o de­creto de Obama, em 2015, de­cla­rando a Ve­ne­zuela uma ameaça para a se­gu­rança dos Es­tados Unidos; a ins­tru­men­ta­li­zação do Par­la­mento, após as elei­ções de 2015, para des­ti­tuir o pre­si­dente Ni­colás Ma­duro, pa­ra­lisar a acção do seu Go­verno, con­frontar a Cons­ti­tuição ve­ne­zu­e­lana e atacar o pro­cesso bo­li­va­riano e as suas re­a­li­za­ções; o fo­mentar da vi­o­lência por parte de grupos cri­mi­nosos, face à firme de­fesa da le­ga­li­dade cons­ti­tu­ci­onal e de­mo­crá­tica pelas res­tantes ins­ti­tui­ções ve­ne­zu­e­lanas; a ten­ta­tiva dos Es­tados Unidos de uti­lizar a OEA como ins­tru­mento de pressão e iso­la­mento da Ve­ne­zuela; o boi­cote da eco­nomia; o açam­bar­ca­mento e a es­pe­cu­lação de preços, obs­ta­cu­li­zando o acesso re­gular e ade­quado a bens es­sen­ciais; a ex­plo­ração de di­fi­cul­dades mo­men­ta­ne­a­mente sen­tidas pela po­pu­lação; a pro­moção de um clima ar­ti­fi­cial de caos, des­con­fi­ança, temor e in­se­gu­rança, de pro­cla­mação de uma si­tu­ação de «crise hu­ma­ni­tária»; o apelo feito nos Es­tados Unidos pelo ex-pre­si­dente da Colômbia, com li­ga­ções ao nar­co­trá­fico e aos pa­ra­mi­li­tares, Álvaro Uribe, a uma in­ter­venção mi­litar na Ve­ne­zuela; a or­ques­trada e sis­te­má­tica cam­panha de fal­si­fi­cação e ma­ni­pu­lação da in­for­mação; entre ou­tros exem­plos da guerra eco­nó­mica, me­diá­tica, po­lí­tica, di­plo­má­tica, cri­mi­nosa mo­vida contra a Ve­ne­zuela e que se in­sere na contra-ofen­siva le­vada a cabo pelos EUA contra os pro­cessos de afir­mação so­be­rana, de sen­tido pro­gres­sista e de co­o­pe­ração na Amé­rica La­tina.

Com­pre­ender o que está em causa na Ve­ne­zuela, des­montar a ac­tual cam­panha me­diá­tica contra este País, é um ele­mento cen­tral da so­li­da­ri­e­dade para com as forças re­vo­lu­ci­o­ná­rias e pro­gres­sistas, os tra­ba­lha­dores e povo ve­ne­zu­e­lanos que – en­fren­tando enormes de­sa­fios e ta­refas, a re­so­lução de pro­blemas, o ul­tra­passar de di­fi­cul­dades e in­su­fi­ci­ên­cias – re­siste e luta em de­fesa e pelo apro­fun­da­mento da re­vo­lução bo­li­va­riana e contra a acção do im­pe­ri­a­lismo e da oli­gar­quia.




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