Soares da Costa tem de pagar
Depois de terem ido em manifestação ao Ministério do Trabalho, mais de uma centena de trabalhadores entraram anteontem na delegação da Soares da Costa, em Lisboa, e chegaram à fala com um administrador.
A construtora deve salários a mais de mil trabalhadores
Com salários em atraso há cinco ou oito meses, os trabalhadores da conhecida construtora – que tem sede no Porto, o estaleiro central na Rechousa (Vila Nova de Gaia) e obras em vários países, com destaque para Angola – realizaram nesta terça-feira, dia 12, mais uma jornada de luta, organizados na Comissão de Trabalhadores e no Sindicato da Construção de Viana do Castelo e Norte, com o apoio da federação do sector (Feviccom/CGTP-IN).
Cerca das 11 horas, mais de uma centena de operários chegaram em três autocarros ao Areeiro, de onde seguiram a pé, em manifestação, até à Praça de Londres. Entre outras presenças solidárias, o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, juntou-se aos trabalhadores em luta.
Uma delegação foi recebida no Ministério do Trabalho, mas apenas obteve um compromisso de «monitorização» da situação da empresa, com reservas por esta ser uma entidade privada. Foram informados de que a empresa não desencadeou qualquer processo de despedimento colectivo.
Os atrasos no pagamento de salários arrastam-se há mais de dois anos e afectam mais de um milhar de trabalhadores. A reunião no Ministério tinha ficado marcada no dia 30 de Junho, quando ali se realizou uma concentração com mais de uma centena de trabalhadores.
No limite
A insatisfação com este resultado e a situação dramática que muitos dos quatro mil trabalhadores da Soares da Costa estão a atravessar justificaram a decisão tomada já na hora de regressar. Os autocarros fizeram um pequeno desvio, até ao edifício de escritórios na Rua Soeiro Pereira Gomes, onde esteve instalada a Bolsa de Lisboa. Pouco depois das 14h30, os trabalhadores subiram ao nono andar e entraram na delegação de Lisboa da empresa, onde costumam estar dois administradores executivos, como explicaram Fátima Messias, da Comissão Executiva da CGTP-IN e da Feviccom, e José Martins, coordenador da CT e do sindicato. Ficou na rua um pequeno grupo, exibindo uma faixa, gritando palavras de ordem e explicando ao pessoal das empresas vizinhas o motivo do protesto.
Quando chegou uma carrinha da PSP, os agentes limitaram-se a reforçar o controlo da entrada no prédio. Foi aqui que ouvimos um trabalhador de Gaia a explicar aos polícias as razões do protesto, o drama de quem trabalha e não recebe, «não temos culpa da má gestão da empresa», «a mim o banco cobra-me juros por não pagar a casa»... «Lutem, que têm razão», retorquiu um dos agentes, sem deixar de aconselhar que «têm de ver bem até onde vão».
Um administrador aceitou receber uma delegação de representantes. Mas foram entrando para a sala mais duas ou três dezenas de trabalhadores e a reunião acabou por decorrer de porta aberta, com várias intervenções a fazerem ver que se está numa situação limite.
A determinação de prosseguir a luta, em unidade, expressou-se na decisão tomada durante o regresso ao Norte. Das novas acções a realizar brevemente, destaca-se uma concentração amanhã, dia 15, às oito horas, junto às obras do Hotel Monumental, no Porto.