Marco de Correio

João Frazão

Já não é fácil en­con­trar os cé­le­bres marcos de cor­reio, es­tru­turas ci­lín­dricas, de cor ver­melha, onde, di­a­ri­a­mente, eram de­po­si­tadas cartas de amor, cartas da fa­mília, pos­tais de boas festas, con­vites, contas e ex­tractos ban­cá­rios, cor­res­pon­dência avulsa de todo o tipo, que pas­sava por esse ícone, imor­ta­li­zado até em can­ço­netas li­geiras.

Hoje, as co­mu­ni­ca­ções elec­tró­nicas ali­gei­raram o vo­lume de cartas e já só quase nos chegam a casa contas para pagar e cada vez mais do­lo­rosas.

Não deve ter sido, por­tanto, através de ne­nhum marco do cor­reio (até porque, desde a pri­va­ti­zação, os CTT já não são de fiar, en­tre­gando as cartas quando calha, por via da re­dução de tra­ba­lha­dores) que o BCE de­cidiu re­meter à Ad­mi­nis­tração da Caixa Geral de De­pó­sitos a fa­mosa carta sobre a Caixa geral de De­pó­sitos que mão amiga fez chegar a um co­men­tador te­le­vi­sivo.

Não terá sido, mas pa­rece.

En­ten­damo-nos. O Es­tado Por­tu­guês, pro­pri­e­tário da Caixa Geral de De­pó­sitos, de­cidiu fazer um pro­cesso de re­ca­pi­ta­li­zação deste banco. Tal de­cisão jus­ti­fica-se, ple­na­mente, com o ob­jec­tivo de as­se­gurar o seu de­sen­vol­vi­mento ao ser­viço o povo e do país. Fá-lo no exer­cício da sua le­gí­tima so­be­rania e da obri­gação que tem de zelar pelos su­premos in­te­resses do povo Por­tu­guês.

O BCE terá es­crito à Ad­mi­nis­tração da Caixa, exi­gindo um plano al­ter­na­tivo, para o caso da re­ca­pi­ta­li­zação pú­blica não ser viável, apro­vei­tando para se pro­nun­ciar sobre o nú­mero de ad­mi­nis­tra­dores da Caixa e sobre quem eles são.

Su­bli­nhando o de­sa­cordo pela opção de co­locar à frente dos des­tinos do banco pú­blico, da maior en­ti­dade ban­cária na­ci­onal, gente que tem dado provas ao longo da sua vida de se reger apenas pela de­fesa dos in­te­resses par­ti­cu­lares e pri­vados, mão se pode deixar de ma­ni­festar o mais pro­fundo re­púdio por esse acto su­premo de in­ge­rência de, não apenas pro­cu­rarem de­ses­ta­bi­lizar o pro­cesso que está em curso de for­ta­le­ci­mento da Caixa, como avan­çarem já para a fase se­guinte, as­su­mindo que os seus pro­pó­sitos darão certo nesta etapa.

O que é exi­gível é que, na volta do cor­reio, o Go­verno por­tu­guês lhes re­meta um Postal com a cé­lebre fi­gura de Bor­dalo Pi­nheiro, co­lo­cando-os, com os me­lhores cum­pri­mentos, no de­vido sítio!

 



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