Constrições

Henrique Custódio

Ati­rando-se «com co­dícia» (como dizem dos touros) às vi­a­gens dos se­cre­tá­rios de Es­tado ao fu­tebol da Se­lecção, no cam­pe­o­nato da França e a con­vite da Galp, o PSD e o CDS pa­recem não se dar conta, nem do ri­dí­culo do bi­sonho pre­texto (so­bre­tudo quando com­pul­sado com o pal­marés cor­re­la­tivo de PSD, PS e CDS, nesta ma­téria das vi­a­gens pagas a po­lí­ticos em fun­ções), nem da «total au­sência de pro­jecto» (como diria o meu amigo Le­andro) que esta in­sis­tência lhes de­nuncia.

E é aqui que bate o ponto, com a nota an­te­ci­pada de que este apro­vei­ta­mento de bo­leias para jogos de fu­tebol de gente em fun­ções pú­blicas no Es­tado nunca acon­te­ceria com o PCP – aliás, como toda a gente no­to­ri­a­mente sabe.

E o ponto con­creto é que o des­norte dos par­tidos de di­reita vai para além da silly se­ason e a cos­tu­meira au­sência de no­tí­cias.

O des­norte dos par­tidos de di­reita vem de mais atrás e agu­diza-se no fu­turo ime­diato.

O vir de mais atrás alonga-se numa es­teira de fri­vo­li­dades mar­te­ladas em «factos po­lí­ticos»: ora temos As­sunção Cristas, líder do CDS, a cri­ticar o pri­meiro-mi­nistro An­tónio Costa de «co­locar em causa tudo o que os por­tu­gueses con­se­guiram nestes quatro anos (sic)» (nin­guém per­ce­bendo que diabo os por­tu­gueses «con­se­guiram» no Go­verno Passos/​Portas além de mi­séria, de­sem­prego e perda de di­reitos e de sa­lá­rios), en­quanto Passos Co­elho dis­cre­teia que «o tac­ti­cismo e a ma­ni­pu­lação in­te­lec­tual (?) que o Go­verno tem vindo a fazer estão a ir longe de mais e estão a deixar se­quelas», não se per­ce­bendo que diabo de «tac­ti­cismo» aco­meteu Passos Co­elho nem que «ma­ni­pu­lação in­te­lec­tual» pre­tende, ao pro­ferir tão des­con­jun­tada frase e ou­tras do mesmo jaez que se se­guiram, na sua «apre­ci­ação» aos seis meses de Go­verno PS (tal como Cristas também «apre­ciou» na frase su­pra­ci­tada e ou­tras que tais).

Vindo de trás, o des­norte da di­reita tem con­di­ções para se agravar no fu­turo ime­diato, como o pre­nun­ciam as jac­tân­cias hoje em dia pro­fe­ridas por lí­deres par­la­men­tares e cor­re­la­tivos, de ambos os par­tidos, in­ven­tando ar­gueiros nos olhos do Go­verno e num fu­turo que ainda não existe – a dis­cussão do pró­ximo Or­ça­mento do Es­tado - e ig­no­rando as grossas traves que lhes to­lhem todos os mo­vi­mentos, in­cluindo os de ma­pear um pro­grama mí­nimo de in­ter­venção po­lí­tica.

À falta de me­lhor, devem estar a guardar-se para as res­pec­tivas ren­trées par­ti­dá­rias (há­bito ad­qui­rido na es­teira das Festas do Avante!), mas des­con­fi­amos que pouco (ou nada) acres­cen­tarão ao de­ses­pero em que len­ta­mente se afu­nilam, se­qui­osos dum poder onde se res­paldem e cada vez mais ata­ran­tados na de­fesa da po­lí­tica de cons­trição na­ci­onal, que tanta ale­gria lhes deu a pôr em marcha e tanta tris­teza e re­volta se­meou em quatro longos e in­fer­nais anos.




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