Velhas Modernices – II

Manuel Gouveia

José Mendes é mais que mo­derno, é um adi­an­tado, vive num fu­turo pró­ximo. É membro do Go­verno, e já de­cidiu que vai mudar a lei que rege o sector do táxi e que pas­sará a ser legal a ac­ti­vi­dade de uma certa mul­ti­na­ci­onal. Con­se­quen­te­mente, as­sume que uti­liza os ser­viços for­ne­cidos por essa mul­ti­na­ci­onal, e até lhe faz pro­pa­ganda: ser­viços que são ile­gais no tempo em que nós vi­vemos, mas José Mendes vive numa bolha tem­poral, e rege-se pelas leis que já de­cidiu es­crever e não por aquelas que estão em vigor.

Mas também aqui o adi­anto é sinal de atraso. É que o tempo em que os go­ver­nantes go­zavam de total im­pu­ni­dade e po­diam dizer e fazer o que que­riam até pode estar de volta, mas já existiu. E existiu com a mesma con­di­ci­o­nante deste que está a re­gressar: desde que se co­lo­quem ao lado das grandes fa­mí­lias e das mul­ti­na­ci­o­nais, desde que ajo­e­lhem aos pés do grande ca­pital.

Na mesma en­tre­vista, o adi­an­tado José Mendes até chamou todos os ta­xistas de ga­tunos. Só o PCP e as or­ga­ni­za­ções do sector se in­dig­naram. Ti­vesse cha­mado ga­tunos aos ban­queiros e já não seria membro do Go­verno. Mas mais uma vez, isto é tão velho como a di­ta­dura da classe do­mi­nante.

Nem o que o adi­an­tado de­fende é mo­derno. De­fende o «di­reito» de um tra­ba­lhador, de­pois de 8 horas de tra­balho por um sa­lário mi­se­rável poder andar num táxi mais 4/​8/​10 horas a fazer bis­cates à per­cen­tagem para a mul­ti­na­ci­onal. Chama-lhe eco­nomia par­ti­lhada, mas o que todos par­ti­lha­ríamos seria o dí­zimo pago à mul­ti­na­ci­onal. E atenção: isto hoje já acon­tece a muitos tra­ba­lha­dores do sector, é fruto do seu em­po­bre­ci­mento e chama-se ex­plo­ração (às vezes com pre­fixos como auto ou sobre). Tem que ser com­ba­tido e não tra­ves­tido em prá­tica mo­der­naça a im­ple­mentar.

Sobre a mo­derna «ne­ces­si­dade» de acabar com os con­tin­gentes e li­be­ra­lizar a ac­ti­vi­dade, re­cordo que há mais de 100 anos – no­me­a­da­mente nas grandes ci­dades do im­pério in­glês - também existia uma apli­cação que per­mitia chamar um trans­porte in­di­vi­dual ope­rado por um tra­ba­lhador mal pago e sem di­reitos num mer­cado to­tal­mente li­be­ra­li­zado: cha­mava-se então a essa App «um as­sobio».

 



Mais artigos de: Opinião

Por uma política fiscal<br>mais justa!

Não é, nunca foi, po­sição do PCP, clamar contra os im­postos. Os im­postos são in­dis­pen­sá­veis para as­se­gurar os meios ao Es­tado para que este ga­ranta a todos o di­reito à edu­cação, à saúde, à jus­tiça, à mo­bi­li­dade.

Marionetas do grande capital

O governo PSD/CDS é responsável por milhares de milhões de euros que o Estado «enterrou», nos últimos anos, na banca privada enquanto esta encerrava centenas de agências e despedia milhares de trabalhadores. É bom lembrar que foi também o governo PSD/CDS que...

Sanções e mais sanções

Há duas semanas atrás, muitos foram os que cantaram vitória sobre a suposta decisão de não haver «sanções» da União Europeia a Portugal. Do coro dos comentadores do costume, aos porta-vozes de quase todos os partidos, campeou a unanimidade, destinada a...

Constrições

Atirando-se «com codícia» (como dizem dos touros) às viagens dos secretários de Estado ao futebol da Selecção, no campeonato da França e a convite da Galp, o PSD e o CDS parecem não se dar conta, nem do ridículo do bisonho pretexto (sobretudo quando...

<i>Quo Vadis?</i>

Para onde vão os EUA? Até quando o povo norte-americano continuará a ser vitima da ditadura do capital financeiro e do poderoso complexo militar-industrial que tanto sofrimento tem trazido ao mundo? Não haverá motivos de esperança na capacidade dos trabalhadores e do povo deste...