Confiança para ir mais longe
A alteração do quadro político, após as eleições de 4 de Outubro e com o contributo determinante do PCP, só foi possível com a luta dos trabalhadores e abriu caminho para reforçar a confiança em que, persistindo neste rumo, é possível ultrapassar limitações e constrangimentos, designadamente quando decorrem de imposições externas.
Esta ideia, presente nas posições do Partido ao longo destes meses, motivou dois debates no Fórum, no sábado, ao final da tarde e à noite, em que participaram membros dos organismos executivos do Comité Central e deputados do Partido na AR e no Parlamento Europeu: «Nova fase da vida nacional e a luta pela alternativa patriótica e de esquerda», com Jorge Cordeiro, João Oliveira, Pedro Guerreiro e Margarida Botelho, e «Rejeitar a submissão à UE e ao euro», com Ângelo Alves, Vasco Cardoso, João Ferreira e Paulo Sá. Às intervenções iniciais, seguiram-se interpelações da assistência, terminando com breves comentários de cada orador.
A nova fase permitiu resultados que, sendo limitados, não podem ser desvalorizados, sendo que às imposições externas se somam as limitações próprias das opções do PS, pois a posição conjunta em que se fundamentou a solução política não significou qualquer alteração nos programas dos partidos. Para a resposta política foi determinante a luta nas empresas e nas ruas, que travou medidas do governo PSD/CDS e levou ao isolamento deste, com reflexo nas eleições legislativas. A luta também influiu nas medidas do Governo PS, sendo dela que também vai depender a superação de obstáculos e constrangimentos, para responder aos problemas de fundo e para alterar a correlação de forças, dando mais peso ao PCP.
A vertente externa da política de direita, inserindo Portugal no processo de integração capitalista na Europa, resultou num crescente domínio do capital na política nacional. Dito de outra forma, no segundo debate, a política de direita andou sempre de mão dada com a integração na União Europeia. E nos 30 anos decorridos desde a entrada na CEE, as consequências desmentem por completo os argumentos e promessas dos que a impuseram, mas confirmam em absoluto os alertas do PCP, feitos ao longo dos anos, desde antes do 25 de Abril. Um salto qualitativo foi dado com o programa da troika, classificado como «pacto de agressão» desde o início, em Maio de 2011. Com a tese da «saída limpa», ao fim de três anos, ficou claro que o objectivo era perpetuar esta linha de exploração e empobrecimento, que apenas teve sucesso nos seus fins não declarados.
Fundada numa avaliação de classe sobre os interesses em causa, a posição do Partido ganha credibilidade e aumenta a assertividade na avaliação actual da situação, verificando-se que hoje mais pessoas convergem com o ponto de vista dos comunistas. Sem subestimar as consequências, é necessário estudar e preparar o rompimento com o colete de forças da UE e do euro. Perante um choque entre as decisões nacionais e as imposições da UE, deve prevalecer o interesse do País e do povo, e ao consenso de décadas, nesta matéria, entre a direita e a social-democracia, responde-se com o consenso do interesse e da luta dos povos.
Perante preocupações quanto à insuficiência dos ganhos já obtidos pelos trabalhadores e pelo País, foi salientado que não se pode cometer o erro de minimizar os resultados da luta, como elemento de transformação social e perspectiva de futuro. Sem esperar que os objectivos sejam alcançados apenas pela alteração do quadro eleitoral, deve ser valorizada a influência desta nas condições para desenvolvimento da luta. «Há mais gente hoje na Festa, mas não é por haver mais dinheiro, é por haver mais confiança», como disse um camarada que, da assistência, tomou a palavra no primeiro destes dois debates no Fórum.