A luta está aí

Henrique Custódio

Em nota in­terna, o pre­si­dente exe­cu­tivo do Deutsche Bank, Jonh Cryan, atri­buiu a crise pro­funda em que mer­gu­lhou a ins­ti­tuição ban­cária que di­rige às «forças de mer­cado» que es­tarão a «tentar pre­ju­dicar» a con­fi­ança no sector ban­cário, re­ma­tando com a se­guinte ga­rantia: «O Deutsche Bank tem muitos pro­blemas, mas a li­quidez não é um deles».

Dois dias de­pois veio a res­posta, dada pelo vice-chan­celer e mi­nistro da Eco­nomia do go­verno alemão, Sigmar Ga­briel: «Não sei se ria ou se chore com o facto de o banco que teve um mo­delo de ne­gócio ba­seado na es­pe­cu­lação diga, agora, que é ví­tima de es­pe­cu­lação».

Estes e ou­tros dados in­te­res­santes foram co­li­gidos no Pú­blico pela jor­na­lista Li­liana Borges e vale a pena amiudá-los.

Olhando para os 100 mil tra­ba­lha­dores do Deutsche Bank, o mi­nistro es­pe­ci­ficou que «o ce­nário são mi­lhares de pes­soas que vão perder o seu tra­balho. Vão pagar o preço da lou­cura de di­ri­gentes ir­res­pon­sá­veis», en­quanto a agência Blo­om­berg avança que a di­recção do banco pre­tende des­pedir mil fun­ci­o­ná­rios, des­pe­di­mentos que se juntam aos três mil anun­ci­ados an­te­ri­or­mente.

En­quanto a co­tação em bolsa do só­lido Deutsche Bank en­trou no io-io da des­graça cos­tu­meira, as au­to­ri­dades ban­cá­rias dos EUA apro­veitam a brecha para exi­girem ao banco alemão 14 mil mi­lhões de euros de «in­dem­ni­zação» pelo seu papel na crise fi­nan­ceira de 2008 onde, a par de ou­tros bancos (vá­rios deles dos EUA), terá ven­dido cré­ditos hi­po­te­cá­rios sa­bendo que eram tó­xicos.

De mo­mento e ao que consta, pros­se­guem afa­nosas ne­go­ci­a­ções com as au­to­ri­dades norte-ame­ri­canas para se re­duzir a in­dem­ni­zação de 14 mil mi­lhões para os 5,4 mil mi­lhões de euros – e é a este papel de pe­dinte que está re­du­zido o pro­pa­lado co­losso ban­cário ger­mâ­nico.

O go­verno alemão já fez saber, pela voz do mesmo vice-pre­si­dente Sigmar Ga­briel, que não está dis­po­nível para co­brir «os pre­juízos» do Deutsche Bank, en­quanto Di­eter Zetsche, res­pon­sável pela Daimler (em­presa-mãe da Mer­cedes, entre ou­tras marcas de au­to­móvel), ex­pendeu que «bancos ale­mães fortes são im­por­tantes para uma eco­nomia alemã mais forte».

Lé­rias – como es­tamos fartos de saber e ver.

Pri­meiro, porque um go­verno ca­pi­ta­lista e bur­guês existe para co­brir os «pre­juízos» das res­pec­tivas bancas, pondo, na­tu­ral­mente, os tra­ba­lha­dores e povos a ar­rotar com as des­pesas «da festa» – e sa­bemo-lo de­ma­siado na pele para o ig­no­rarmos: é só lem­bramo-nos do BPN, do BPP, do BES e do GES, do BANIF e do mais que por aí vier...

Se­gundo, a ba­sófia do se­nhor da Daimler é mesmo só isso, porque os «grandes in­dus­triais» sabem sê-lo apenas com o Es­tado a puxar por eles, com os in­ves­ti­mentos.

Mas esta crise no Deutsche Bank é mais grave e séria do que os res­pon­sá­veis po­lí­ticos fingem crer. A luta está aí.




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