O que diz Morgado

Henrique Custódio

Há um novo Mor­gado na As­sem­bleia da Re­pú­blica, chama-se Mi­guel e é vice-pre­si­dente da ban­cada par­la­mentar do PSD.

E o que disse Mor­gado?

Su­pondo res­ponder a quem acu­sava o PSD de nada dizer sobre os bons in­di­ca­dores eco­nó­micos por­tu­gueses apre­sen­tados tanto no INE como na UE, Mor­gado de­cretou: «Não vamos é fazer as fi­guras tristes que o PS fez desde 2013 quando, pe­rante a re­cu­pe­ração eco­nó­mica, apa­recia com um ar zan­gado».

É certo que este Mor­gado não é o mesmo que Na­tália Cor­reia imor­ta­lizou à volta das coisas que ele fazia com o coiso, o que, à par­tida, não o deixa mal co­lo­cado. To­davia, des­camba de ime­diato na­quilo que diz. «Re­cu­pe­ração eco­nó­mica» desde 2013?!... Mas o que se passou, ime­di­a­ta­mente antes e desde essa al­tura, foi a mais vi­o­lenta de­gra­dação eco­nó­mica e so­cial ocor­rida em re­gime de­mo­crá­tico!!!

E o pior para o Mor­gado é que essa de­gra­dação eco­nó­mica se fez ao longo de quatro anos e meio, con­ti­nu­a­mente, não ha­vendo nin­guém neste País que não saiba disso, in­cluindo os mais re­motos pas­tores a tanger gado pelas mon­ta­nhas...

Quanto a «fi­guras tristes» es­tamos con­ver­sados, mas o Mor­gado está longe de ser o único a pra­ticá-las, lá na agre­mi­ação. Aliás, o grupo dos in­de­fec­tí­veis de Passos Co­elho tem-se es­pe­ci­a­li­zado tão afin­ca­da­mente na pro­dução de ca­tás­trofes imi­nentes (que nunca acon­tecem) e numa re­tó­rica ca­tas­tro­fista tão ir­res­pi­rável, que a sua ac­tu­ação se tornou per­ni­ciosa e sus­peita. Já toda a gente per­cebeu que esta fe­bril de­manda do de­sastre na­ci­onal é o único pro­jecto que o PSD de Passos Co­elho apre­senta ao País, não tar­dando muito que os vejam como meros arautos da des­graça, pas­sando a fugir deles como da pe­çonha.

Passos Co­elho con­tinua, ele pró­prio, a atirar imensas bolas para este pi­nhal, uma das quais foi de­clarar que «eu tinha ver­gonha de andar a usar o Es­tado para fazer cam­panha par­ti­dária» (re­fe­rindo-se ao anúncio do Go­verno sobre os au­mentos das pen­sões para Agosto pró­ximo), isto agi­tando o de­dinho. Jul­gará, no gesto, apagar a in­fi­ni­dade de si­tu­a­ções do seu go­verno onde, ele pró­prio, usava o Es­tado de­li­be­rada e des­pu­do­ra­da­mente para fazer cam­panha a si pró­prio?

A falta de ver­gonha é, de resto, a marca de água do com­por­ta­mento po­lí­tico do PSD de Passos Co­elho, so­bre­tudo no seu con­su­lado go­ver­na­mental mas também agora, nesta ina­cre­di­tável «cam­panha do de­sastre», onde a única pro­posta po­lí­tica apre­sen­tada ao País é a da pre­visão de ca­tás­trofes imi­nentes, mesmo quando surgem dados eco­nó­micos po­si­tivos, antes exi­gidos fer­vo­ro­sa­mente pela di­reita e agora ig­no­rados com álacre des­caro.

Afinal, quem tem razão é o Mor­gado das «fi­guras tristes». Com o por­menor de não se aper­ceber que quem anda por aí a fazê-las é ele pró­prio e os seus com­pa­dres da des­graça.

 



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