Sobre comunicação social

Carina Castro (Membro do Comité Central)

Queria di­rigir uma pa­lavra aos pro­fis­si­o­nais de co­mu­ni­cação so­cial que acom­pa­nham o nosso Con­gresso a tra­ba­lhar. São tra­ba­lha­dores que à se­me­lhança de todos os ou­tros têm visto os ho­rá­rios de tra­balho au­mentar e o sa­lário a di­mi­nuir. Viram a pre­ca­ri­e­dade alas­trar no sector e foram ví­timas do de­sem­prego que re­sultou do en­cer­ra­mento de tí­tulos e do ema­gre­ci­mento das re­dac­ções. As­sis­tiram à des­va­lo­ri­zação, ao ataque e aos cortes no fi­nan­ci­a­mento do ser­viço pú­blico.

Quem so­brou, para lá da in­cer­teza e da ameaça cons­tante de de­sem­prego, faz hoje o tra­balho de dois, três jor­na­listas, a uma ve­lo­ci­dade alu­ci­nante, faz o texto do papel, do di­gital, a fo­to­grafia e o vídeo, sem tempo para en­qua­drar, pes­quisar, cri­ticar, con­tra­ditar. Perdem os tra­ba­lha­dores do sector, perdem a qua­li­dade e o rigor da in­for­mação, perde a de­mo­cracia.

A todos ape­lamos para que de­fendam os seus in­te­resses e tomem par­tido contra a sua ex­plo­ração. Sim, mesmo quando as no­tí­cias des­va­lo­rizam e ca­ri­ca­turam quem luta, quem as es­creve é também ex­plo­rado. Nesta ba­talha não há neu­tra­li­dade.

Se o di­gital e as cha­madas redes so­ciais são hoje veí­culos pri­vi­le­gi­ados de acesso à in­for­mação, não quer dizer que haja mais plu­ra­lismo, ou que a classe do­mi­nante deixou de de­ter­minar os seus con­teúdos. Os for­matos não al­teram, por si, a re­lação de forças, nem iludem o do­mínio ide­o­ló­gico exer­cido pelo grande ca­pital em que se in­sere a con­cen­tração da pro­pri­e­dade dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial: em Por­tugal, cinco grupos detêm mais de 50 es­paços de in­for­mação, com uma cres­cente pre­sença de ca­pital es­tran­geiro e da banca pri­vada na es­tru­tura ac­ci­o­nista. Tal con­cen­tração con­traria a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, põe em causa o plu­ra­lismo, a li­ber­dade de ex­pressão e de acesso à in­for­mação, em­po­brece o re­gime de­mo­crá­tico.

A co­mu­ni­cação so­cial é um ne­gócio para os seus pro­pri­e­tá­rios, mas so­bre­tudo cons­titui um ins­tru­mento de in­fluência e de poder po­lí­tico, so­cial, eco­nó­mico e ide­o­ló­gico. Também por isso, pre­ci­samos, ao con­trário do que tem acon­te­cido, de um ser­viço pú­blico que dis­ponha dos meios para cum­prir a obri­gação cons­ti­tu­ci­onal de sal­va­guardar a sua in­de­pen­dência pe­rante o poder po­lí­tico e o poder eco­nó­mico, e capaz de «as­se­gurar a pos­si­bi­li­dade de ex­pressão e con­fronto das di­versas cor­rentes de opi­nião».

Bem re­ve­lador do apu­rado sen­tido de con­trolo e ori­en­tação dos prin­ci­pais grupos do­mi­nantes é a in­con­for­mação de grande parte dos ór­gãos de co­mu­ni­cação com a ac­tual so­lução po­lí­tica, par­ti­cu­lar­mente com o papel do PCP, acen­tu­ando-se o si­len­ci­a­mento, a dis­cri­mi­nação, e mesmo o ataque os­ten­sivo.

Somam-se os de­mais as­pectos mar­cantes da in­for­mação ac­tual: o ime­di­a­tismo, o efé­mero, a con­ta­mi­nação da no­tícia pelo sen­sa­ci­o­na­lismo, o en­tre­te­ni­mento, a con­fusão de­li­be­rada entre pu­bli­ci­dade e es­paço de in­for­mação. O re­curso sis­te­má­tico à opi­nião e ao co­men­tário, do­mi­nan­te­mente pro­ta­go­ni­zado por res­pon­sá­veis e im­pul­si­o­na­dores da po­lí­tica de di­reita, o re­curso à in­ter­pre­tação para des­vir­tuar ou des­truir men­sa­gens e po­si­ci­o­na­mentos po­lí­ticos. Ver­da­deiros tru­ques da im­prensa por­tu­guesa.

O Pro­grama que o PCP propõe ao povo por­tu­guês pre­co­niza uma co­mu­ni­cação so­cial plu­ra­lista, de­mo­crá­tica e res­pon­sável como es­sen­cial a um re­gime de li­ber­dade; cito: «É in­dis­pen­sável à for­mação, em con­di­ções de real li­ber­dade, da opi­nião dos ci­da­dãos e ao es­tí­mulo à sua par­ti­ci­pação cí­vica, à trans­pa­rência da vida po­lí­tica, ao con­trolo de­mo­crá­tico da acção dos ór­gãos de poder, à ex­pressão ge­nuína da von­tade po­pular através do su­frágio, ao co­nhe­ci­mento das re­a­li­dades e ao es­forço co­lec­tivo para a so­lução dos pro­blemas na­ci­o­nais, à ele­vação do nível cul­tural da po­pu­lação e à apro­xi­mação, ami­zade e com­pre­ensão entre os povos». É também por isto que lu­tamos.




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