Janeiro de 1937

Filipe Diniz

Há 80 anos a Guerra Civil de Espanha entrava no período decisivo. A sublevação franquista concentrava a ofensiva em Madrid. Dispunha de fortíssimo apoio militar da Alemanha nazi e da Itália fascista.

E que faziam nesse mês outros países? Eis algumas efemérides:

2 de Janeiro – a Grã-Bretanha e a Itália assinam um «acordo de cavalheiros» assegurando o mútuo respeito pelos direitos e interesses respectivos no Mediterrâneo e pela «independência e integridade» da Espanha.

8 de Janeiro – Roosevelt assina uma adenda ao Neutrality Act embargando o envio de armas para Espanha. Integra-se na linha do «pacto de não-intervenção» entre França e Inglaterra, que impede o governo republicano de lhes comprar armas. Desde 1936 que grandes empresas dos EUA forneciam aos franquistas viaturas e combustíveis em condições altamente favoráveis.

11 de Janeiro – os EUA invalidam todos os passaportes para Espanha. O Batalhão Lincoln, integrado nas Brigadas Internacionais, tivera já uma destacada intervenção na defesa de Madrid.

14 de Janeiro – o nazi Herman Göering reúne-se em Roma com Mussolini e Ciano para discutir a Guerra Civil em Espanha. Em Fevereiro desse ano as milícias fascistas italianas em Espanha (Corpo di Truppe Volontarie, CTV) têm 48 mil efectivos, quatro mil veículos, 542 canhões, 248 aviões.

21 de Janeiro – a França embarga o envio de armas e de voluntários para Espanha. No ano anterior, mais de 50 por cento da produção soviética de armamento fora enviada para Espanha.

31 de Janeiro – o Batalhão Dimitrov junta-se à XV Brigada Internacional.

Em muito lado, nos dias de hoje, boas almas se alarmam com a ameaça da extrema-direita e do fascismo. Em alguns casos já não se trata de simples ameaça. Mas muitas dessas boas almas conduzem uma linha de criminalização e repressão anticomunista, patrocinam políticas que fazem tábua rasa dos direitos dos trabalhadores e dos povos, empreendem ou participam em agressões militares contra países soberanos para desalojar governos que lhes desagradam.

A lição de Janeiro de 1937 é inteiramente actual. Não é na burguesia mas no movimento operário e popular que residem as forças determinantes para combater o fascismo. Foi assim no passado. É assim nos dias de hoje.




Mais artigos de: Opinião

Almas inquietas

As almas do costume estão em alvoroço. Habituados que estão a contar com «dinheiro em caixa», no sentido literal e metafórico do termo, o capital e seus representantes vagueiam entre o incrédulo e o desconcerto. No guião usual do livro de «deve e haver» a...

Com as calças do meu pai...

Uma reportagem no canal público de televisão trouxe-nos novas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Eu que tive o trabalho de ver a peça de princípio ao fim, fiquei de queixo caído tal o nível do frete que ali se fez...

Ordem liberal

O Ministro dos Negócios Estrangeiros – e talvez futuro presidente – alemão, Steinmeier, declara que com Trump «a velha ordem mundial do Século XX acabou para sempre» (RT, 22.1.17). Ilustres comentadores choram o fim da «ordem liberal» mundial. Para além de...

Os enganos

Passos Coelho é um jogador inveterado e fez um novo lançamento: declarou ir votar com o PCP, o PEV e o BE contra o abaixamento da TSU para os patrões, mandando às malvas a coerência e os princípios que foi jurando ao longo da sua trepidante carreira política –...

A luta, tarefa primeira<br>dos comunistas

Tese central do XX Congresso do nosso Partido foi a de que «a luta de massas confirma-se (…) como factor decisivo de intervenção para a construção da alternativa política e de transformação social». Na sua reunião de 17 de Dezembro, o CC sublinhou essa ideia, afirmando que «o desenvolvimento da luta reivindicativa dos trabalhadores e do povo reclama das organizações e militantes do Partido uma intervenção que contribua para o fortalecimento das organizações unitárias dos trabalhadores e de outros movimentos de massas, envolvendo todas as classes e camadas sociais anti-monopolistas, importante contributo para o alargamento da frente social de luta».