As intermitências do crime

Carlos Gonçalves

Como no livro de Sa­ra­mago «as in­ter­mi­tên­cias da morte», também em ma­téria de ser­viços de in­for­ma­ções são re­cor­rentes as in­ter­mi­tên­cias do as­sas­sínio, em forma ten­tada, do seu mo­delo ori­ginal, vol­tando sempre à carga, como no livro, em que a morte envia a «carta vi­o­leta», para anun­ciar o tão al­me­jado de­sen­lace.

Apa­ren­te­mente, nem se jus­ti­fi­caria esta in­ter­mi­tência ob­ses­siva, porque o sis­tema de in­for­ma­ções (SIRP) está es­tri­ta­mente con­ce­bido, im­ple­men­tado, di­ri­gido, ins­tru­men­ta­li­zado, abu­sado e (pseudo) fis­ca­li­zado pelo PS, PSD e CDS, vive na «re­a­li­dade» vir­tual, criada na «co­mu­ni­dade de in­for­ma­ções», dita na­ci­onal, mas com dou­tu­ra­mento em Lan­gley-USA, e sob con­trolo re­moto das «agên­cias» NATO.

Apa­ren­te­mente, bas­taria ao PS, PSD e CDS o con­trolo total dos ins­tru­mentos le­gais do SIRP, mais os ile­gais, a co­berto do abuso do se­gredo de Es­tado – es­cutas e in­ter­cepção de co­mu­ni­ca­ções, me­ta­dados e cor­res­pon­dência, in­fil­tra­cões, trá­fico de in­fluên­cias e muitas ou­tras ac­ti­vi­dades cri­mi­nó­genas, al­gumas em out­sor­cing.

Apa­ren­te­mente, seria su­fi­ci­ente a im­pu­ni­dade com que pros­se­guem a for­mação de téc­nicos, con­forme o seu «Ma­nual de For­mação» ilegal, e as ac­ções ilí­citas de sempre, sem que daí se re­tirem con­sequên­cias po­lí­ticas, com o Se­cre­tário Geral Júlio Pa­reira em fun­ções há doze anos, em go­vernos PS e PSD/​CDS – será que agora vai mesmo ser «pro­mo­vido»?

Apa­ren­te­mente, bas­taria a uni­fi­cação de facto con­se­guida de SIS e SIED, fun­dindo mis­sões de se­gu­rança in­terna e de­fesa, em con­flito com a Cons­ti­tuição, bas­taria o vazio de fis­ca­li­zação, ma­ni­e­tada por PSD e PS, e bas­taria a nova ten­ta­tiva deste Go­verno para acesso aos me­ta­dados, apesar da de­cisão con­trária do Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal e da efi­cácia da pre­venção cri­minal em si­tu­a­ções de risco.

Mas não. Não lhes basta! PS e PSD no Con­selho de Fis­ca­li­zação, para além de mais uns re­la­tó­rios inó­cuos e co­pi­ados dos an­te­ri­ores, em que nem as datas se al­teram, aí estão de novo a «su­gerir» a fusão na Lei. Querem passar a cer­tidão de óbito, fazer es­quecer a re­sis­tência que muitas vezes travou a per­ver­si­dade total, querem que o SIRP seja para sempre ad­verso ao Por­tugal de Abril.

Como n'as in­ter­mi­tên­cias da morte, um dia vamos de­volver a carta vi­o­leta e travar o crime.




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