A leitura dos números
Os últimos dados divulgados pelo INE sobre o comportamento da economia nacional em 2016 dão-nos um retrato, quer dos avanços, quer das limitações, da situação actual.
O PIB cresceu 1,4%, acima do que Governo e Comissão Europeia previram. E o País teve um crescimento líquido no emprego de mais de 53 mil postos de trabalho. Resultados só possíveis pelo conjunto de direitos e rendimentos que foram repostos ao longo do ano e que contribuíram decisivamente para o aumento do consumo privado, a variável que mais influenciou este desempenho. Foi o aumento do salário mínimo, a eliminação dos cortes salariais e nas pensões, o início da eliminação da sobretaxa no IRS, o descongelamento das pensões. Foram as majorações nas prestações sociais, a reposição do IVA a 13% na restauração, e outras medidas, que resultaram da luta dos trabalhadores e da acção decisiva do PCP. Confirmou-se que a política de recuperação de direitos e rendimentos, para além do que representa no plano social, tem, como sempre o PCP afirmou, uma dimensão económica.
Mas se afinal o «diabo» não chegou como dizia Passos Coelho, os dados do INE ilustram também o quadro de dependências para onde a política de direita nos conduziu, as opções do Governo PS e a necessidade da tal ruptura, com as imposições da União Europeia e os interesses do grande capital, de que o PCP fala, sob pena do efeito destas medidas se poder vir a esgotar.
A economia precisa de crescer. Mas não basta crescer ao actual ritmo, são necessários níveis de crescimento sustentáveis, provavelmente acima dos três por cento, coisa que não é possível mantendo o País amarrado a uma dívida insustentável que desvia para os bolsos do capital aquilo que deveria ir para o investimento público e gasto social. Crescer mais e produzir mais, evitando que o aumento do rendimento das famílias se traduza em mais importações desequilibrando o défice externo como aconteceu agora. Portugal precisa de recuperar instrumentos de soberania, como a moeda própria, que criem outro atrito ao consumo de bens importados e favoreçam as exportações e, sobretudo, libertem o País das amarras impostas pela UEM. No fundo, é a política patriótica e de esquerda e a dimensão económica que comporta que ganha a cada dia reforçada actualidade.