Conquistar o espaço para o bem dos homens

Manuel Rodrigues

O voo de Iúri Ga­gárin cul­mina um per­curso ini­ciado em Ou­tubro de 1957

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«Vamos!» afirmou sim­ples­mente Iúri Ga­gárin às 9 horas e 7 mi­nutos (hora de Mos­covo) de 12 de Abril de 1961, quando se pu­seram em marcha os po­tentes mo­tores de 20 mi­lhões de ca­valos-força do fo­guetão que o lan­çava no es­paço cós­mico a bordo da nave «Vostok 1».

Pela pri­meira vez, num en­genho es­pa­cial, o homem atra­ves­sava a at­mos­fera e lan­çava-se no es­paço para uma ór­bita com­pleta em volta da terra. Eram 10 horas e 56 mi­nutos, quando a Vostok 1 ater­rava su­a­ve­mente, cum­prida a sua missão. Ti­nham bas­tado 108 mi­nutos para se ini­ciar «a grande aven­tura do sé­culo XX», dando-se assim o sinal de par­tida para a cor­rida à con­quista do Cosmos, que al­guns de­sig­naram como a «mais fa­bu­losa da his­tória da Hu­ma­ni­dade».

O voo de Iúri Ga­gárin cul­mi­nava um per­curso que se ini­ciara em 4 de Ou­tubro de 1957 com a co­lo­cação em ór­bita do sa­té­lite ar­ti­fi­cial Sputnik a que se se­guiram muitas ou­tras ex­pe­ri­ên­cias, no­me­a­da­mente com naves ha­bi­tadas por ani­mais.

Fi­cava assim de­mons­trado para o mundo o ex­tra­or­di­nário avanço, também no plano da ci­ência e da téc­nica, con­se­guido pela Re­vo­lução de Ou­tubro e pela cons­trução do so­ci­a­lismo na URSS. Aos êxitos ob­tidos no campo eco­nó­mico acres­cen­tava-se as trans­for­ma­ções so­ci­a­listas ope­radas em todos os do­mí­nios da vida da so­ci­e­dade so­vié­tica.

De­pois das pe­sadas pro­va­ções dos anos da guerra, tendo de­fen­dido a li­ber­dade e a in­de­pen­dência da sua pá­tria so­ci­a­lista da ameaça nazi-fas­cista, o povo so­vié­tico su­perou as di­fi­cul­dades e exi­gên­cias da re­cu­pe­ração de um país onde a guerra dei­xara um imenso rasto de des­truição e morte (a vi­tória sobre o nazi-fas­cismo custou à União So­vié­tica mais de vinte mi­lhões de vidas) e ini­ciou a cons­trução de uma vida pa­cí­fica. Num curto tempo his­tó­rico não só re­cons­truiu a eco­nomia como pro­moveu um de­sen­vol­vi­mento ful­gu­rante que lhe abriu o ca­minho à con­quista do es­paço.

Re­fe­rindo-se ao seu voo, Iúri Ga­gárin, diria: «É sa­bido que qual­quer voo cós­mico en­cerra um certo risco, so­bre­tudo o pri­meiro voo ex­pe­ri­mental numa nave nova. Pelos nu­me­rosos avanços que ajudam ao pro­gresso, a Hu­ma­ni­dade tem que pagar um preço ele­vado, por vezes o preço da vida dos me­lhores dos seus fi­lhos. Mas o avanço pelo ca­minho do pro­gresso é im­pa­rável».

Ini­ciava-se assim uma nova era, a era da con­quista do Cosmos, que pro­pi­ciou es­pan­tosos ex­pe­ri­ên­cias e avanços no­me­a­da­mente no do­mínio do co­nhe­ci­mento ci­en­tí­fico (bi­os­fera, at­mos­fera, me­te­o­ro­logia, con­trolo do clima, quí­mica, óp­tica, elec­tró­nica, in­dús­tria far­ma­cêu­tica, flo­restas, agri­cul­tura, oce­anos, etc.) que abriu à hu­ma­ni­dade as portas de um mundo novo.

Des­co­bertas, ex­pe­ri­ên­cias e avanços que o im­pe­ri­a­lismo tudo faz nos dias de hoje para co­locar ao ser­viço dos seus in­te­resses de ex­plo­ração, opressão e de do­mínio sobre a hu­ma­ni­dade.

Foi esta con­tra­dição in­sa­nável do ca­pi­ta­lismo com o sen­tido hu­ma­nista e vol­tado para o bem comum deste gi­gan­tesco passo rumo ao Cosmos que Iúri Ga­gárin as­si­na­laria, em 1967, no cin­quen­te­nário da Re­vo­lução de Ou­tubro, ao deixar es­crito: «Po­derei eu al­guma vez es­quecer o Sol, fonte da vida do nosso pla­neta, exu­be­rante, de um branco azu­lado, com­ple­ta­mente di­fe­rente da sua imagem ob­ser­vável desde a Terra? Os que o viram tal como ele é são ainda pouco nu­me­rosos. De todas as ma­neiras, estou certo de que muitos o verão, de­zenas, cen­tenas de ter­res­tres, ho­mens de todas as pro­fis­sões e ci­da­dãos de todos os países. Pro­cu­rando de­ci­frar os mis­té­rios do Uni­verso, eles so­nharão com o bem dos ho­mens.»




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