Ataque dos EUA à Síria é balão de oxigénio para os terroristas do Estado Islâmico e faz subir a tensão
Tal como aconteceu ao Iraque, também a Síria está na mira dos EUA
O bárbaro ataque com armas químicas que a 4 de Abril vitimou uma centena de pessoas em Khan Sheikhun, no Noroeste da Síria, não foi investigado, mas a administração Trump atribuiu de imediato a responsabilidade ao governo sírio.
As «certezas» de Washington baseiam-se numa «fonte de informação» há muito desacreditada: o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma organização com escritório em Londres de que apenas se conhece um dirigente, Rami Abdulrahman, radicado na capital britânica desde 2000. Opositor ao governo de Bashar al Assad, Abdulrahman reconheceu em entrevista ao New York Times, em Abril de 2013, ser financiado pela União europeia e «por um país europeu» que não quis identificar.
Os sucessivos escândalos envolvendo a OSDH, designadamente a divulgação de imagens montadas – como o caso dos Capacetes Brancos, organização fundada por um ex-oficial britânico e financiada com milhões de dólares pelos EUA e pelo Reino Unido, desmascarada por encenar execuções e resgates de pseudo vítimas – não parecem abalar a organização. As suas «informações» continuam a servir de pretexto para demonizar a Síria e os países que a apoiam no combate aos terroristas do ISIS e afins (Rússia e Irão), abrindo caminho para acções militares como a ocorrida na passada quinta-feira.
As principais potências ocidentais e os tradicionais aliados dos EUA, de Israel à Turquia passando pelas monarquias do Golfo, ignoraram o facto de tanto a Síria como a Rússia terem negado a autoria do ataque; ignoraram o facto de os peritos que monitorizaram a destruição do arsenal químico síro garantirem que o governo de Assad não tem capacidade para fabricar armas como as utilizadas em Khan Sheikhun; e fingem não dar conta da evidente incongruência de o exército sírio levar a cabo um ataque deste tipo justamente quando está a ganhar a guerra contra os terroristas.
A exemplo do que aconteceu no Iraque, invadido e destruído a pretexto das «armas de destruição massiva» que não existam, também a Síria está na mira dos EUA. Com a grande diferença de que desta vez tanto a Rússia como o Irão parecem estar dispostos a oferecer resistência, o que eleva a tensão e o perigo de guerra a níveis sem paralelo.
Entretanto, fora das notícias do dia ficou o ataque dos EUA a Mossul, a 23 de Março, que apesar de ter provocado 230 mortos é como se não tivesse existido, bem como a «coincidência» de o ataque norte-americano à base aérea de Shayrat ter sido acompanhado em simultâneo por uma ofensiva do ISIS. Os comentadores não acharam estranha esta espécie de balão de oxigénio aos terroristas que a força aérea siro-russa está a derrotar.