As três vitórias

Correia da Fonseca

O passado dia 13 foi, como se diria usando uma expressão popular, um dia abençoado para o nosso País, e é claro que a televisão portuguesa não esteve indiferente a esse facto: calcule-se que Portugal venceu o Eurofestival da Canção, que o Benfica festejou exuberantemente a quarta conquista consecutiva do campeonato nacional de futebol (agora crismado com uma designação publicitária que por honrado pudor aqui se omite) e que o Papa Francisco visitou a Cova da Iria e aí anunciou a promoção a santos de dois dos já beatificados «pastorinhos de Fátima». Foi, pois, um dia em grande para a generalidade dos portugueses, até para os que têm vindo a ser indiferentes a outros êxitos nacionais como a reversão de medidas espoliativas que o governo Passos Coelho havia decretado ou o decréscimo da ainda grande taxa de desemprego. Na esteira dos êxitos agora registados, e decerto também pela memória ainda próxima da vitória portuguesa no campeonato europeu de futebol, passou a ouvir-se na TV um estribilho segundo o qual «Portugal está na moda». Haverá na fórmula algum exagero, e ainda que se confirme, a tal moda, será provavelmente uma coisinha ainda frágil e porventura passageira, mas já que o estribilho é usado não se esqueça que boa parte das condições que por via indirecta explicarão a tal moda, designadamente quanto a alguns bons resultados nas áreas das finanças e da economia com consequentes aplausos a nível internacional, não teriam sido alcançados sem a contribuição do PCP para a solução política que tanta secreção biliar provoca em conhecidas figuras da direita política. Pois em matéria de prestígio internacional nem tudo é futebol e bonitas canções. Nem sequer santificações proclamadas pela voz do Papa.

Do mesmo lado

De qualquer modo, fixemo-nos neste último facto, a vinda de Francisco, aqui arrolado como vitória nacional e, como se justificava, com intensa cobertura pela TV. Por muito que tenhamos tido gosto na visita, convém reconhecer que o Papa utilizou a vinda a Fátima não apenas para acrescer mais dois santos à Igreja que lidera, mas também para mais uma vez orar pela Paz no mundo. Sem surpresa: a Paz e a veemente condenação de um modelo social que assenta na pobreza de milhões para proveito de milhares têm sido os temas dominantes das intervenções do Papa, tantas vezes e de tal modo que lhe granjearam a pública reprovação de muitos e a surda hostilidade de uns quantos. E não tente ninguém, farisaicamente, sustentar que o combate de Francisco em favor da Paz e contra a exploração de muitos por alguns (os marxistas dizem isto de outro modo, bem se sabe) foi irrelevante para a maré alta de presenças em Fátima nos passados dias 12 e 13: telespectadores que somos, vimos e ouvimos muitos depoimentos de gente grata ao Papa pelas suas palavras em favor da Paz e da efectiva fraternidade que exclui as injustiças sociais. Assim, os que lutam por um futuro diferente e justo tiveram mais uma vez a confirmação de que Francisco está do seu lado, ainda que porventura de outro modo. E agradecem-lhe pela condição de factual aliado.




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