Isolamento do Qatar está por explicar
«Durante a minha recente viagem ao Médio Oriente afirmei que o financiamento da ideologia radical devia acabar. Os líderes apontaram o dedo ao Qatar». As palavras são de Donald Trump, que anteontem considerou que o isolamento do Qatar pode ser o «início do fim do horror do terrorismo».
As declarações do presidente dos EUA sugerem que o corte de relações diplomáticas com o Qatar, anunciada esta segunda-feira pela Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Egipto, Iémen e Líbia, além das Maldivas, é uma consequência da sua visita à Arábia Saudita.
Riade justificou a decisão com o «acolhimento pelo Qatar de vários grupos terroristas e sectários para desestabilizar a região», incluindo a Irmandade Muçulmana, a Al-Qaida, o Estado Islâmico e grupos apoiados pelo Irão, e informou que o corte de relações visa o isolamento daquele país. As medidas já anunciadas com esse fim, segundo a Lusa, passam pelo encerramento de fronteiras terrestres e marítimas, proibições de sobrevoo e restrições à deslocação de pessoas. Sete companhias aéreas anunciaram entretanto a suspensão dos voos de e para Doha, a capital do Qatar.
Quer a decisão dos países do Golfo quer as palavras de Trump suscitam preocupações e inevitáveis interrogações, já que o Qatar alberga a maior base militar aérea dos EUA na região. Situada a pouco mais de 30 quilómetros de Doha, a base Al Udeid foi construída na década de 90 do século passado e alberga actualmente, segundo a CNN, pelo menos onze mil soldados norte-americanos. Entre outras caraterísticas da base, é de destacar que possui 3,8 km de pista de aterragem, sendo a maior que existe no golfo Pérsico.
Acresce que, de acordo com o sítio Sputnik, Al Udeid aloja o Centro de Operações Aéreas Combinadas (CAOC, na sigla em inglês), responsável por supervisionar o funcionamento da Força Aérea dos EUA no Afeganistão, Síria, Iraque e em outros 17 países.
Numa altura em que nem nos EUA se esconde os vínculos entre os terroristas da Al Qaida e personalidades oficiais sauditas – entre as quais o príncipe herdeiro Bin Nayef, o ministro dos Negócios Estrangeiros Adel al Yubair, o primeiro secretário da embaixada saudita em Washington, Jalid bin Abdel Rahman al Dayel, e a sua assessora cultural, Nura al Nafici, segundo um relatório divulgado pelo Instituto de Assuntos do Golfo em Washington – cabe perguntar o que está efectivamente em jogo com este «isolamento» do Qatar.
Ali Fakhru, diplomata de Bahrein, ex-ministro da Saúde e Educação e membro da Organização Anticorrupção Árabe, citado pela Reuters, embora considerando ser cedo para se perceber o alcance do que está a acontecer, deixou uma pista: «Há possibilidade de que forças estrangeiras queiram romper a unidade árabe e o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Precisamos de nos interrogar sobre o papel de Israel, que quer destruir poderosas organizações árabes, especialmente o CCG, pois ele pode ser considerado o último poder unido do mundo árabe».