Trump ajuda a tingir de verde interesses imperialistas

Vladimiro Vale

 

EUA são his­to­ri­ca­mente os mai­ores emis­sores de Gases com Efeito de Es­tufa

A ad­mi­nis­tração Trump anun­ciou a sua re­ti­rada do Acordo de Paris sobre al­te­ra­ções cli­má­ticas. Esta re­ti­rada do acordo re­flecte o po­si­ci­o­na­mento da ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana na pro­moção de in­te­resses eco­nó­micos es­pe­cí­ficos no quadro das con­tra­di­ções e com­pe­tição inter-im­pe­ri­a­lista. Para lá da pro­pa­ganda, este ob­jec­tivo também es­teve pre­sente no Acordo de Paris, com a im­ple­men­tação de um sis­tema que trata de igual forma países de­sen­vol­vidos e em de­sen­vol­vi­mento, o que é po­ten­ci­ador de in­jus­tiças.

Os EUA são his­to­ri­ca­mente os mai­ores emis­sores de Gases com Efeito de Es­tufa (GEE) e são a origem de cerca de um terço das emis­sões de car­bono glo­bais. No en­tanto sempre ac­tu­aram no sen­tido de apagar as suas res­pon­sa­bi­li­dades en­quanto país que mais con­tribui e con­tri­buiu para a dita acu­mu­lação de car­bono na at­mos­fera, no sen­tido de ni­velar res­pon­sa­bi­li­dade «pas­sando a fac­tura» aos cha­mados países em de­sen­vol­vi­mento, assim como pela im­ple­men­tação de me­ca­nismos de mer­cado e po­lí­ticas cli­má­ticas que fa­vo­recem mul­ti­na­ci­o­nais e os in­te­resses dos países ricos.

O Acordo de Paris adop­tado em De­zembro de 2015 na 21.ª Con­fe­rência das Partes das Na­ções Unidas para as Al­te­ra­ções Cli­má­ticas es­ta­be­leceu ob­jec­tivos am­bi­ci­osos, apesar de não apontar me­didas con­cretas de re­dução de GEE para os atingir, para lá de me­ca­nismos de mer­cado e de ta­xação de car­bono. Não des­va­lo­ri­zando o facto de este acordo cor­res­ponder a um re­co­nhe­ci­mento da ur­gência de adopção de me­didas de re­dução da emissão de gases com efeito de es­tufa, o prin­cipal risco para o qual o PCP tem vindo a alertar são os ins­tru­mentos de mer­cado con­ju­gados com o con­ceito de neu­tra­li­dade de emis­sões que têm vindo a ser pro­mo­vidos como so­lu­ções.

Os me­ca­nismos e ins­tru­mentos pro­postos sus­citam dú­vidas e pre­o­cu­pa­ções, em pri­meiro lugar, porque as­sentam numa pers­pec­tiva de mer­can­ti­li­zação do am­bi­ente, pelo re­curso ao mer­cado de car­bono – que já re­velou ser ine­ficaz na re­dução das emis­sões de CO2. A adopção do con­ceito neu­tra­li­dade de emis­sões, dos su­mi­douros de CO2 contém riscos acres­cidos de não re­so­lução do pro­blema e até de o apro­fundar, ao con­tri­buir para o de­sa­pa­re­ci­mento das flo­restas au­tóc­tones em par­ti­cular dos países em de­sen­vol­vi­mento, sendo mais um ins­tru­mento de do­mínio pelos países de­sen­vol­vidos.

 

In­te­resses que es­peram lu­cros

Um coro de vozes com li­ga­ções aos cen­tros de de­cisão do ca­pital le­vantou-se in­dig­nado pela de­cisão da ad­mi­nis­tração Trump, mas es­condem que também re­pre­sentam in­te­resses eco­nó­micos es­pe­cí­ficos no quadro da com­pe­tição inter-im­pe­ri­a­lista. Os in­te­resses que es­peram lu­cros com a fi­xação de taxas de car­bono, como os que re­pre­senta Ch­ris­tine La­garde, di­rec­tora do FMI, re­flec­tidos num ar­tigo que pu­blicou nos dias que an­te­ce­deram a Con­fe­rência Al­te­ra­ções Cli­má­ticas das Na­ções Unidas, em que es­creveu o se­guinte: «se os países que mais emitem Gases com Efeito de Es­tufa (GEE) im­pu­sessem um preço da to­ne­lada de CO2 de 30 dó­lares, po­diam gerar re­ceitas fis­cais de cerca 1% do seu PIB»

Os mesmos in­te­resses que estão por de­trás de Fran­çois Hol­lande que, no dis­curso de aber­tura da «Ci­meira de Ne­gó­cios Cli­má­ticos» («Bu­si­ness Cli­mate Summit») que teve lugar em Paris um mês antes da COP 21, disse que «se todos que­remos ver­da­dei­ra­mente en­viar si­nais aos mer­cados para que as em­presas possam tomar as suas de­ci­sões em função de um óp­timo eco­nó­mico, que possa ser um óp­timo eco­ló­gico, a questão do preço do car­bono tem que ser co­lo­cada». Em Junho de 2015, seis grandes com­pa­nhias pe­tro­lí­feras – Bri­tish Gas Group, BP, Eni, Royal Dutch Shell, Sta­toil e Total – exi­giam um sis­tema de preços do car­bono bas­tante mais forte.

In­de­pen­den­te­mente das ca­rac­te­rís­ticas in­su­fi­ci­ên­cias e riscos do Acordo de Paris, não deixa de ser pre­o­cu­pante o anúncio pú­blico do pre­si­dente dos EUA de des­vin­cu­lação desse Acordo, pois vai no sen­tido in­verso da adopção de me­didas de re­dução de emis­sões e, num quadro com­plexo de in­te­resses e con­cor­rência inter-im­pe­ri­a­listas, acaba bran­quear e ajudar a «tingir de verde» po­de­rosos in­te­resses im­pe­ri­a­listas que visam a mer­can­ti­li­zação dos bens e pro­cessos am­bi­en­tais e a di­versão ide­o­ló­gica, com que pre­tendem in­verter o ónus das ver­da­deiras res­pon­sa­bi­li­dades de classe na de­gra­dação am­bi­ental e fazer re­flectir os seus custos ex­clu­si­va­mente nas po­pu­la­ções e nos tra­ba­lha­dores.

http://​cli­ma­te­and­ca­pi­ta­lism.com/​2017/​06/​04/​trump-cli­mate-and-the-bre­ak­down-of-mul­ti­la­te­ra­lism/

http://​alen­contre.org/​so­ciete/​eco­logie-so­ciete/​la-taxe-di­vi­dende-sur-le-co2-me­naces-sur-la-droite-piege-pour-la-gauche-i.html

 



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