Factura

Filipe Diniz

Tem-se falado do elevado custo da electricidade no nosso País. Que pode fazer um vulgar consumidor e leigo senão consultar alguns dados?

Num relatório de análise da Comissão Europeia (Energy prices and costs in Europe, 2016) conclui-se que enquanto se verifica uma quebra de preços nas «commodities» energéticas, em particular com o petróleo a cair 60% desde 2014, os preços da electricidade e do gás nos consumidores não baixaram. Pelo contrário, cresceram 3% ao ano desde 2008 na electricidade, e 2% no gás. Num detalhe de sensibilidade social que merece registo, o relatório acrescenta que o peso dos gastos com energia na habitação cresceu de 5,3% para 5,8% do gasto total, sendo os lares mais pobres os mais afectados, com a sua factura energética a subir mais rapidamente, atingindo os 8,6% do total em 2014. Os gráficos do relatório mostram que, embora com diferentes níveis de preços, o seu padrão de evolução em todos os países é homogéneo.

Em 2015 o preço da electricidade em Portugal era o 6.º mais elevado da UE. Entre 2004 e 2016 foi sempre superior ao da média UE27. O preço médio da energia eléctrica subiu 54% entre 2004 e 2016 na UE27 e, no mesmo período, subiu 70,1% em Portugal. Quase a mesma percentagem que na Bélgica (71,7%) onde custa 8,3% mais. O SMN na Bélgica era em 2015 mais de 2,5 vezes o de Portugal.

Seguindo a pista que Lénine nos aponta, olhemos para os gigantes capitalistas que intervêm no sector. Só entre as 100 maiores empresas com sede em países europeus temos E-ON, Fr.Engie (antes GDF Suez), ENEL, EDF, RWE AG, IBERDROLA, CENTRICA. Têm sedes na Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha, Espanha, mas estão em todo o lado. Todas resultam de processos de concentração, várias delas de vez em quando tentam tomar alguma das outras. Mas no fundamental estão de acordo, concertam preços e a factura que cada um de nós paga. E assim continuará enquanto não for o povo a tomar conta delas.




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