Incêndios resultam de anos de políticas erradas

COIMBRA Os re­centes in­cên­dios flo­res­tais são o re­sul­tado de anos de po­lí­ticas flo­res­tais e so­ciais que en­tre­garam a flo­resta aos mo­no­pó­lios e pro­mo­veram a de­ser­ti­fi­cação do in­te­rior.

A de­ser­ti­fi­cação é um dos prin­ci­pais fac­tores de risco de in­cêndio

Num co­mu­ni­cado de dia 22, a Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Coimbra do PCP (DORC) emitiu um co­mu­ni­cado re­la­ci­o­nado com os fogos flo­res­tais que la­vraram nos dis­tritos de Leiria, Cas­telo Branco e Coimbra – neste caso nos con­ce­lhos de Pam­pi­lhosa da Serra, Góis e Pe­nela – e suas dra­má­ticas con­sequên­cias hu­manas, ex­pressas nas 64 ví­timas mor­tais, nas de­zenas de fe­ridos e, em Góis, nas 27 al­deias eva­cu­adas. Para além da ex­pressão do pesar pelas ví­timas, da so­li­da­ri­e­dade a todos quantos so­freram danos pes­soais ou ma­te­riais e do re­co­nhe­ci­mento pela acção dos bom­beiros, o Par­tido in­siste na adopção de me­didas ur­gentes por parte do Go­verno e da União Eu­ro­peia para um cé­lere apoio às ví­timas destes fogos.

Mas a DORC vai mais longe e re­alça, no do­cu­mento que emitiu, que a ca­la­mi­dade ocor­rida na se­mana pas­sada re­sulta de «anos su­ces­sivos de po­lí­ticas er­radas vi­radas para o in­te­rior do País e res­pec­tivas áreas flo­res­tais». Com o en­cer­ra­mento de di­versos ser­viços pú­blicos, como es­colas, cen­tros de saúde, postos de cor­reio, tri­bu­nais e juntas de fre­guesia, pro­moveu-se a ex­pulsão das po­pu­la­ções.

Também a ruína e eli­mi­nação da pe­quena e média ex­plo­ração fa­mi­liar con­tri­buíram de­ci­si­va­mente para o «es­tado a que chegou o nosso mundo rural», re­alça o PCP, para quem os re­ba­nhos nas serras e o cul­tivo de terras ará­veis à volta das al­deias «cons­ti­tuíam fac­tores de con­tenção dos fogos e, no caso das terras de cul­tivo, im­pu­nham des­con­ti­nui­dades às grandes man­chas flo­res­tais ser­vindo de tampão à pro­gressão dos fogos».

Ainda no plano da po­lí­tica flo­restal, o Par­tido de­nuncia a «in­ten­si­fi­cação da plan­tação de plantas de cres­ci­mento rá­pido, de grandes man­chas con­tí­nuas, so­bre­tudo de eu­ca­lipto, mesmo em ter­renos fér­teis», bem como do pi­nheiro, em pre­juízo da flo­resta au­tóc­tone de fo­lhosas. Para os co­mu­nistas, esta me­dida re­pre­senta a sa­tis­fação dos in­te­resses do ne­gócio das grandes em­presas do sector mo­no­po­lista da pasta de papel.

 

Mudar de rumo

«Não é ata­cando a ex­plo­ração fa­mi­liar e de­fen­dendo a con­cen­tração da pro­pri­e­dade das grandes em­presas de ce­lu­loses que se re­sol­verão» os graves pro­blemas da flo­resta por­tu­guesa, as­si­nala ainda o PCP, aler­tando para me­didas em curso que apenas re­sul­tarão no acen­tuar da «de­ser­ti­fi­cação hu­mana do nosso mundo rural, em es­pe­cial do in­te­rior». Também a cha­mada mu­ni­ci­pa­li­zação da flo­resta não re­sol­verá qual­quer pro­blema, su­blinha o PCP re­al­çando que a «falta de meios téc­nicos, hu­manos e fi­nan­ceiros» e a des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado cri­arão novas di­fi­cul­dades aos pe­quenos pro­pri­e­tá­rios e «con­du­zirão à pri­va­ti­zação e con­cen­tração das pe­quenas e mé­dias ex­plo­ra­ções ru­rais».

Re­pu­di­ando ainda a eli­mi­nação dos Guardas Flo­res­tais e a não im­ple­men­tação e ca­rência de apoios às equipas de Sa­pa­dores Flo­res­tais, a DORC re­alça que me­didas como estas cri­aram con­di­ções para a re­dução da vi­gi­lância e do pri­meiro ataque ao fogo, ou seja, «quando ele ainda pode ser do­mi­nado e ex­tinto fa­cil­mente». Quanto à pre­venção dos in­cên­dios, o co­mu­ni­cado re­corda as po­si­ções atem­pa­da­mente ex­pressas pelo PCP de que a Re­forma Flo­restal do Go­verno PS não só não res­ponde aos prin­ci­pais pro­blemas da flo­resta por­tu­guesa como sig­ni­fica, no es­sen­cial, a con­ti­nu­ação da po­lí­tica de an­te­ri­ores go­vernos.

A va­lo­ri­zação dos pe­quenos pro­du­tores e com­partes dos bal­dios, dando mais meios e poder de de­cisão às suas as­so­ci­a­ções; a so­lução do pro­blema cen­tral do baixo preço do ma­te­rial le­nhoso; e o efec­tivo or­de­na­mento da flo­resta, de­sig­na­da­mente através da ela­bo­ração do Ca­dastro Flo­restal, com meios fi­nan­ceiros ade­quados, são me­didas há muito de­fen­didas pelo PCP e agora uma vez mais re­a­fir­madas. 



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