Pelos «chefes»

Henrique Custódio

À di­reita, as mu­lheres esta se­mana es­ti­veram po­li­ti­ca­mente de­sen­voltas.

Te­resa Mo­rais, a de­pu­tada do PSD que as­sumiu as des­pesas da in­ter­pe­lação par­la­mentar do seu par­tido à questão dos in­cên­dios em Pe­drógão Grande, er­gueu-se no he­mi­ciclo de S. Bento a clamar «em nome do povo», qual Maria da Fonte da Linha de Cas­cais a zurzir os Ca­brais de hoje (até rima) que, se­gundo a ora­dora, fazem «per­guntas» a mais e dão «res­postas» a menos.

De ca­minho e in­ter­ro­gada di­rec­ta­mente pelo PCP com per­guntas sobre as fa­lhas de ac­tu­ação do go­verno PSD/​CDS (de que T. Mo­rais foi mi­nistra da Cul­tura) na or­ga­ni­zação da luta contra os in­cên­dios, no­me­a­da­mente cor­tando verbas e meios aos dis­po­si­tivos de pre­venção e com­bate, a de­pu­tada Mo­rais res­pondeu nada, olím­pica na sua tran­qui­li­dade, quiçá num úl­timo sopro da sua avatar mi­nhota, quando (essa sim) mo­bi­li­zava «o povo» contra os ce­mi­té­rios fora das igrejas.

Fa­zendo pen­dant de gé­nero, a di­ri­gente do CDS, As­sunção Cristas, fez também pen­dant da subs­tância e re­sumiu o as­sunto de­ter­mi­nando que «o Go­verno não tem que fazer per­guntas, tem é de dar res­postas», de­ci­dindo ela pró­pria apre­sentar 25 in­qui­ri­ções «ao Go­verno», que «as po­pu­la­ções» querem ver res­pon­didas.

«As po­pu­la­ções» ou «o povo» também gos­ta­riam de saber onde As­sunção Cristas foi buscar tão re­pen­tina per­gun­tação sobre os ma­le­fí­cios dos in­cên­dios, quando ela pró­pria, en­quanto mi­nistra da Agri­cul­tura do go­verno PSD/​CDS, o que fez de con­creto sobre a flo­resta por­tu­guesa foi le­gislar no sen­tido da li­be­ra­li­zação do plantio de eu­ca­lipto, fa­vo­re­cendo o ne­gócio dos in­dus­triais da ce­lu­lose que, do alto da sua im­pu­ni­dade, im­põem os baixos preços na ma­deira e con­trolam o ne­gócio a seu bel-prazer.

É co­nhe­cida em todo o lado a enorme com­bus­ti­bi­li­dade do eu­ca­lipto, uma ár­vore que cresce ra­pi­da­mente, mas também arde como um fós­foro.

Não é por acaso que, tanto PSD como CDS, fogem do pro­blema do eu­ca­lipto como o diabo da cruz, dado que a sua po­lí­tica, com a as­si­na­tura de As­sunção Cristas na su­pra­ci­tada le­gis­lação, foi in­tei­ra­mente vi­rada para os in­te­resses da in­dús­tria de ce­lu­lose, li­be­ra­li­zando o plantio do eu­ca­lipto e dei­xando as res­pec­tivas em­presas apro­pri­arem-se da pe­quena pro­pri­e­dade, para com ela cons­ti­tuir largas zonas de plantio do eu­ca­lipto, en­quanto mo­no­po­lizam o mer­cado da ma­deira.

En­tre­tanto, Passos Co­elho chegou ao des­plante de negar a alta com­bus­ti­bi­li­dade do eu­ca­lipto, de­vendo ser o único res­pon­sável po­lí­tico eu­ropeu a de­fender tão ex­tra­or­di­nária tese, já que a «Eu­ropa de­sen­vol­vida» foge quanto pode, e há muito, do plantio desta ár­vore que, além do mais, vam­pi­riza a água dos ter­renos onde é plan­tada.

Igual a si pró­prio, Passos Co­elho con­tinua a co­meter ar­go­ladas em função do que julga agradar «aos chefes».




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