A quinta dimensão

Na sua edição de 11 de Agosto, o jornal i de­dicou dez pá­ginas às elei­ções au­tár­quicas do pró­ximo dia 1 de Ou­tubro, sendo esse o tema em des­taque na sua pri­meira pá­gina. Em vá­rias peças, é dada voz e imagem a seis can­di­datos a juntas de fre­guesia e a um can­di­dato a uma Câ­mara Mu­ni­cipal. Dada a re­le­vante pre­sença da CDU nas au­tar­quias lo­cais, com mi­lhares de eleitos e can­di­da­turas apre­sen­tadas a todo o ter­ri­tório na­ci­onal, seria de es­perar que algum dos can­di­datos o fosse nas listas da CDU.

A ver­dade é que o jornal não falou com ne­nhum can­di­dato da CDU. Ao longo das dez pá­ginas, não é se­quer pos­sível en­con­trar uma re­fe­rência que seja à co­li­gação do PCP com o PEV, que elegeu 34 pre­si­dentes de Câ­mara e 170 pre­si­dentes de Junta nas úl­timas au­tár­quicas.

Ao que pa­rece, o jornal i de­cidiu abordar as pró­ximas au­tár­quicas de uma forma cri­a­tiva, abor­dando os casos de «fi­guras pú­blicas» e de es­tran­geiros que são can­di­datos. No pri­meiro caso, ficou-se por lista do PS, do PSD e do CDS-PP, ainda que – pelos exem­plos ci­tados – existam can­di­datos nou­tras listas na mesma con­dição e, na­tu­ral­mente, nas da CDU, como o jornal bem sabe.

No se­gundo caso, a dis­torção da re­a­li­dade é ainda mais gri­tante. Numa peça não as­si­nada, afirma-se que «não há pre­si­dentes de Junta es­tran­geiros, nem can­di­datos nas listas dos par­tidos para as pró­ximas elei­ções au­tár­quicas». Par­tindo desta men­tira, como as listas da CDU com­provam (e mais uma vez como o jornal i bem sabe), é dado o mote para uma en­tre­vista à «ex­cepção que con­firma a regra» – um can­di­dato do BE a uma Câ­mara Mu­ni­cipal.

Ao longo de duas pá­ginas é dada ampla pro­jecção a um can­di­dato de um par­tido para co­mentar uma re­a­li­dade que não existe. A men­tira des­ca­rada serve de pano de fundo a um exer­cício de pro­pa­ganda, ilus­trada com uma fo­to­grafia do can­di­dato com o sím­bolo do par­tido. O ab­surdo do que lemos e vemos podia ser ex­pli­cado por uma pro­funda ig­no­rância, mas como sa­bemos que não é o caso, só po­demos con­cluir que o tra­ta­mento dis­cri­mi­na­tório foi in­ten­ci­onal.

Como se, até agora, a edição do jornal i de 11 de Agosto não fosse já uma ode aos que tudo fazem para es­conder as can­di­da­turas da CDU, somam-se ainda duas pá­ginas sobre a eleição para a Junta de Fre­guesia de Al­va­lade, em Lisboa. Porquê a es­colha desta fre­guesia, não sa­bemos. Mas, mais uma vez, o jornal in­siste na ex­clusão de al­gumas can­di­da­turas, pre­ten­dendo subs­ti­tuir-se aos elei­tores, e de­cide que a «dis­puta» é entre o can­di­dato do PS e o do PSD.

As dez pá­ginas da­quela edição do jornal fazem di­fe­rentes abor­da­gens das elei­ções au­tár­quicas, mas todas elas têm um ponto em comum: a ex­clusão da CDU. Facto que se torna mais grave quando esta é a única força com pre­si­dentes de Câ­mara e de Junta eleitos que não é re­fe­rida nas peças – e quando é dado amplo des­taque a ou­tras que, nas úl­timas elei­ções, ele­geram menos de um dé­cimo dos eleitos da CDU e não pre­sidem a qual­quer au­tar­quia.

Não co­nhe­ces­semos o an­ti­co­mu­nismo mi­li­tante que pauta o tra­balho da co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante, ao ler aquelas dez pá­ginas jul­ga­ríamos ter en­trado numa quinta di­mensão.




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