Já não se luta?

A pro­pó­sito da ma­ni­fes­tação pro­mo­vida pela CGTP-IN no pas­sado sá­bado, como acon­teceu com a luta dos tra­ba­lha­dores da Au­to­eu­ropa, os media do­mi­nantes cons­truíram nar­ra­tivas re­cor­rentes, ainda que con­tra­di­tó­rias: ora já não há greves nem ma­ni­fes­ta­ções, ora cá está o PCP a usar a «rua» para forçar o Go­verno a ceder às suas pre­ten­sões. Esta tese só pode ser ex­pli­cada por ig­no­rância ou má-fé. É que a luta dos tra­ba­lha­dores, nas mais va­ri­adas em­presas e sec­tores, tem sido de grande in­ten­si­dade. Só não têm tido é es­paço nos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nados pelos in­te­resses eco­nó­micos in­te­res­sados nesse apa­ga­mento.

Re­cu­ando apenas a me­ados de Ou­tubro, e sem pre­ten­sões de fazer uma lista exaus­tiva, ve­jamos as lutas que se de­sen­vol­veram e o res­pec­tivo tra­ta­mento me­diá­tico.

Que dizer das greves dos ins­pec­tores das pescas (18/​10), dos tra­ba­lha­dores do grupo Dia (19/​10), do Pingo Doce de Linda-a-Velha (20/​10), da CelCat (25/​10) da Efacec (27/​10), dos guardas pri­si­o­nais e dos mé­dicos do Norte (25/​10)? Ou dos tra­ba­lha­dores da lim­peza do Hos­pital São Fran­cisco Xa­vier (23/​10) e do Ae­ro­porto do Porto (30/​10)? A estas, po­demos acres­centar as con­cen­tra­ções dos tra­ba­lha­dores da PT/​Meo (24/​10) e da Pres­tibel (31/​10), dos lei­tores das uni­ver­si­dades por­tu­guesas (26/​10) ou dos pro­fes­sores do en­sino par­ti­cular e co­o­pe­ra­tivo (28/​10). Quantas destas lutas vimos re­tra­tadas nas te­le­vi­sões, nas rá­dios e nos jor­nais – e, não menos im­por­tante, de que forma?

Mesmo quando o tra­ta­mento é in­con­tor­nável, como na greve dos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica ou dos pro­fes­sores e edu­ca­dores, são in­con­tá­veis os di­rectos com per­guntas a utentes dos ser­viços pú­blicos sobre os in­có­modos e trans­tornos que lhes causa a greve. Em quase todos os casos é se­guro dizer que estas tristes cenas ocupam mais tempo de an­tena do que aquele que é dado aos pró­prios tra­ba­lha­dores em greve.

Já no mês cor­rente, ti­vemos greves nos «call center» da EDP (1/​11) e da PT/​Meo (13/​11), dos tra­ba­lha­dores da lim­peza do Ca­sino do Es­toril e do Hos­pital do Bar­reiro (1/​11), das can­tinas es­co­lares do Norte (2/​11), da ES Mem Mar­tins (6/​11), da So­mincor (6-10/​11), dos mé­dicos (8/​11) ou da CelCat (15/​11). Para além das greves, houve con­cen­tra­ções dos tra­ba­lha­dores da So­ares da Costa, dos mo­to­ristas de pe­sados (10/​11), dos tra­ba­lha­dores da Águas de Por­tugal (10/​11), dos tra­ba­lha­dores ci­en­tí­ficos (14/​11) ou dos téc­nicos dos hos­pi­tais de Abrantes (15/​11) e de San­tarém (16/​11).

O mês mudou, a pos­tura dos media do­mi­nantes não. Com uma ou outra ex­cepção, a regra é o si­lêncio quando se trata de re­tratar as lutas dos tra­ba­lha­dores que, pela lista, se per­cebe não serem es­cassas.

O ce­nário es­tava mon­tado para a en­ce­nação. Assim, ficou mais fácil cons­truir a nar­ra­tiva e até apagar das pri­meiras pá­ginas de todos os diá­rios na­ci­o­nais de do­mingo a ex­pres­siva mo­bi­li­zação do dia an­te­rior. É que a descer a Ave­nida da Li­ber­dade es­ti­veram muitos da­queles que têm es­tado no com­bate diário por me­lhores con­di­ções de tra­balho, pelo au­mento geral dos sa­lá­rios, contra a pre­ca­ri­e­dade, a des­re­gu­la­men­tação dos ho­rá­rios de tra­balho e tantas ou­tras rei­vin­di­ca­ções – muitas mais do que os mi­nutos e as li­nhas que lhes são de­di­cadas.




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