Cimeira UA-UE: planos e promessas

Carlos Lopes Pereira

LUSA

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O tráfico de seres humanos em África esteve no centro dos debates da 5.ª Cimeira entre a União Africana (UA) e a União Europeia (UE). Entre as principais conclusões, a decisão de criar uma «força de intervenção» policial, que abre portas a mais ingerências na Líbia e em outros países da região.
A cimeira decorreu a 29 e 30 de Novembro, em Abidjan, na Costa do Marfim, com a participação de chefes de Estado e de governo dos 55 estados que integram a UA e dos 28 membros da UE, e de representantes de organizações internacionais.

A pensar em África – onde 65% dos 1200 milhões de habitantes têm menos de 25 anos –, o lema foi «Investir na juventude para um futuro sustentável». Mas a recente divulgação de imagens de um mercado de escravos subsaarianos na Líbia colocou no topo da agenda o problema das migrações de africanos para a Europa.

As medidas sobre segurança foram anunciadas pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Uma delas foi a criação de uma task force policial, para desmantelar as redes de tráfico e o seu financiamento, na Líbia e na região. Para o dirigente francês, o tráfico de seres humanos está ligado aos tráficos de armas e de droga, bem como aos «movimentos terroristas que operam em toda a faixa saara-saheliana».
A UA e a UE vão retirar com urgência os migrantes subsaarianos bloqueados na Líbia e à mercê das máfias. O presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, revelou que a primeira vaga de repatriamentos vai abarcar 3800 pessoas, a maioria originária da África Ocidental, alojadas num campo perto de Tripoli. França, Alemanha e Marrocos disponibilizaram aviões para a operação.

Estima-se que haja entre 400 mil e 700 mil migrantes africanos na Líbia, indocumentados e vivendo em condições desumanas. «É preciso primeiro socorrer urgentemente os que se encontram nesta situação e reflectir em conjunto – Líbia, União Africana, União Europeia e ONU – para encontrar soluções mais duradouras para o problema da migração», afirmou Mahamat.

A Cimeira UA-EU confirmou que centenas de milhares de jovens africanos tentam todos os anos sair para a Europa. Fogem ao desemprego, à pobreza e à falta de perspectivas nos seus países, apesar das altas taxas de crescimento em alguns deles. E, quando chegam à Líbia, dividida, sem Estado, onde reina o caos desde a intervenção da NATO, em 2011, são vítimas de prisão arbitrária, roubo, exploração – e até escravidão.

Em Abidjan falou-se também de planos (até de um «plano Marshall» de desenvolvimento para a África), investimentos e empréstimos, tudo para travar a fuga de jovens africanos para a Europa e para os fixar nos seus países de origem.

Um comentário esclarecedor surgiu de Rudo Kwaramba-Kayombo, directora da One, a organização não-governamental fundada pelo músico irlandês Bono: «Não são promessas vazias que criarão os 22 milhões de novos empregos anuais de que a África necessita. Os dirigentes da UA e da UE devem investir no desenvolvimento a longo prazo, dando prioridade à educação, ao emprego e à emancipação dos jovens».

 



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