Misericórdia para o SNS (ou vice-versa)

Margarida Botelho

A Ad­mi­nis­tração Re­gi­onal de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo anun­ciou na se­mana pas­sada a as­si­na­tura de um pro­to­colo com a União das Mi­se­ri­cór­dias Por­tu­guesas (UMP) da maior im­por­tância.

Trata-se nada mais nada menos do que o com­pro­misso de quatro Santas Casas da Mi­se­ri­córdia da Pe­nín­sula de Se­túbal (Bar­reiro, Mon­tijo, Se­simbra e Se­túbal) de aten­derem utentes adultos sem mé­dico de fa­mília «das zonas mais crí­ticas» da re­gião. No co­mu­ni­cado da Mi­se­ri­córdia de Se­túbal, lê-se que esta es­pera atender cem pes­soas por dia, «apesar do nú­mero de­fi­ni­tivo só poder ser con­fir­mado de­pois de li­gados os sis­temas in­for­má­ticos».

«O ob­je­tivo é ajudar o Es­tado a atender mais pes­soas, so­bre­tudo nestas épocas em que este re­gista al­guma di­fi­cul­dade em en­con­trar pro­fis­si­o­nais, e sempre na pro­cura do in­te­resse pú­blico, que é ajudar as pes­soas e as­se­gurar que elas têm cui­dados de saúde», in­formou o pre­si­dente da UMP. Na mesma oca­sião, o vice-pre­si­dente da ARS as­sumiu as di­fi­cul­dades dos agru­pa­mentos de cen­tros de saúde da re­gião, as­so­ci­ando-as à falta de mé­dicos de fa­mília.

Só na iden­ti­fi­cação do pro­blema é que po­demos acom­pa­nhar tais de­cla­ra­ções. Porque de resto, so­bram de­sa­cordos: que mé­dicos vão as Mi­se­ri­cór­dias con­tratar, se os es­pe­ci­a­listas em me­di­cina geral e fa­mi­liar estão no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde (SNS)? Se das con­sultas re­sultar ne­ces­si­dade de acom­pa­nha­mento aos utentes, quem o fará? Quem as­se­gura a con­fi­den­ci­a­li­dade? E de­pois disto, que ou­tras par­celas do SNS vai o Go­verno en­tregar às Mi­se­ri­cór­dias?

O SNS não se de­fende com juras de amor eterno. De­fende-se com de­ci­sões e com po­lí­ticas. Trans­ferir os cui­dados de saúde pri­má­rios para as Mi­se­ri­cór­dias é dar uma ma­cha­dada enorme no SNS, que não se pode ad­mitir e que é pre­ciso com­bater. A saúde é um di­reito!




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