À consideração superior

Anabela Fino

O caso é sim­ples: os turnos dos pais co­meçam às 7h00 mas há in­fan­tá­rios e es­colas que só abrem mais tarde. Que fazer? Não é pre­ciso in­ventar a pól­vora para obter a res­posta óbvia, de resto há muito en­con­trada: aplicar ho­rá­rios fle­xí­veis.

Pois sim. Digam isso ao Co­mando Geral da GNR (CGG), que em des­pacho in­terno de No­vembro do ano pas­sado re­tirou aos seus agentes com fi­lhos me­nores de 12 anos a atri­buição de ho­rário fle­xível por de­feito, pelo que todos os mi­li­tares nessa si­tu­ação têm de pedir au­to­ri­zação, que pode ou não ser con­ce­dida, para usu­fruírem tal ho­rário.

As con­sequên­cias do des­pacho fazem-se sentir em todo o País, de­nun­ciou a se­mana pas­sada o Jornal de No­tí­cias, com pais e mães mi­li­tares a ver-se na con­tin­gência de levar os fi­lhos para as es­qua­dras onde prestam ser­viço até os po­derem pôr na es­cola ou in­fan­tário.

A si­tu­ação, que já levou pelo menos uma mi­litar a in­terpor uma pro­vi­dência cau­telar no tri­bunal de Braga, aceite pelo juiz, está a gerar mal-estar no seio da cor­po­ração, tendo mesmo a As­so­ci­ação dos Pro­fis­si­o­nais da Guarda vindo a pú­blico falar de «as­sédio la­boral», re­por­tando-se a vá­rios casos na re­gião de Braga, onde a sub­missão dos pe­didos de fle­xi­bi­li­zação de ho­rá­rios à «con­si­de­ração su­pe­rior» pa­rece ser uma via aberta para a dis­cri­ci­o­na­ri­e­dade das es­tru­turas de co­mando.

Não se vis­lum­brando qual a van­tagem do des­pacho e sendo ób­vias e in­sus­ten­tá­veis as suas des­van­ta­gens, ocorre per­guntar o que pre­tende a GNR com este «ó tempo volta para trás».

Que é para «har­mo­nizar os di­fe­rentes re­gimes de pres­tação de ser­viço em ho­rário fle­xível», diz a GNR, ga­ran­tindo que os mi­li­tares podem «in­terpor re­que­ri­mento que será alvo de aná­lise e re­me­tido para san­ci­o­na­mento su­pe­rior». Como dizia um po­pular anúncio, lá poder podem, mas não é a mesma coisa...

 



Mais artigos de: Opinião

«Lamentável»

As eleições presidenciais na Venezuela constituíram um exercício de participação popular e democrática de enorme relevância para a Venezuela e o seu povo e uma vitória para todos aqueles que prosseguem a luta de resistência contra as agressões, ingerências e manobras do imperialismo. Segundo dados oficiais participaram...

Populismos e hipocrisia

Foi reportado nos media um «debate sobre democracia e jornalismo», animado por dois socialites da ofensiva ideológica imperialista em versão Bilderberg – Balsemão e Portas –, sereníssimos ex-governantes das políticas mais retrógradas impostas ao País e por coincidência «empreendedores de modernidade», que dissertaram...

Desmancha-prazeres

Não há neste texto qualquer intenção de retirar brilho ao «maravilhoso casamento». Trata-se apenas de registar algumas medidas que foram tomadas para que nada desse brilho fosse ofuscado. Com a devida antecipação, a polícia de Londres tratou de remover os inestéticos sem-abrigo que se instalam próximo do Castelo de...

Hooliganismos

O termo inglês hooligan significa «vândalo» e o hooliganismo passou a classificar a violência no futebol britânico a partir dos anos 60 – curiosamente, quando as populações imensas do chamado «mundo ocidental» recomeçaram a enfrentar crises sociais que jamais pararam de se agravar, até hoje. O fenómeno mereceu estudo e...

Mobilidade, segurança, soberania: defender o transporte ferroviário

Os re­centes au­mentos sa­la­riais con­quis­tados pelos tra­ba­lha­dores da CP, EMEF e IP – In­fra­es­tru­turas de Por­tugal são re­sul­tado de uma luta que se de­sen­volvia há pra­ti­ca­mente nove anos, al­tura da úl­tima ac­tu­a­li­zação sa­la­rial para estes tra­ba­lha­dores.