Direito a ser criança

Diana Ferreira

Cri­ação de um Pro­grama Ex­tra­or­di­nário de com­bate à Po­breza In­fantil

A todas as cri­anças deve ser as­se­gu­rado o di­reito à pro­tecção e a cui­dados es­pe­ciais, o di­reito à edu­cação, ao co­nhe­ci­mento, à saúde, à ha­bi­tação, à ali­men­tação, ao ves­tuário; o di­reito à pro­tecção so­cial e ao abono de fa­mília; o di­reito à se­gu­rança e à in­te­gri­dade fí­sica; o di­reito à cul­tura, ao des­porto, à ocu­pação de tempos li­vres; o di­reito ao amor e ao afecto, ao res­peito pela sua iden­ti­dade pró­pria, à di­fe­rença e à dig­ni­dade so­cial; o di­reito a serem de­se­jadas e a cres­cerem num am­bi­ente de so­li­da­ri­e­dade, com­pre­ensão, ami­zade e jus­tiça entre os povos.

As op­ções po­lí­ticas de su­ces­sivos go­vernos ao longo de largos anos têm li­mi­tado e ne­gado a mi­lhares de cri­anças, no nosso País, o cum­pri­mento destes di­reitos fun­da­men­tais. Di­reitos cuja efec­ti­vação está também in­ti­ma­mente li­gada aos di­reitos dos pais.

O cres­ci­mento e o de­sen­vol­vi­mento har­mo­nioso das cri­anças são in­se­pa­rá­veis de me­didas que ga­rantam con­di­ções aos pais para que exerçam as suas res­pon­sa­bi­li­dades pró­prias, ao mesmo tempo que o Es­tado as­sume as suas obri­ga­ções na pro­tecção es­pe­cial das cri­anças.

En­quanto per­sis­tirem re­a­li­dades de baixos sa­lá­rios, de dis­cri­mi­na­ções sa­la­riais, de pre­ca­ri­e­dade, de des­re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho (que im­pede a ar­ti­cu­lação entre a vida pro­fis­si­onal, pes­soal e fa­mi­liar, com pro­fundos pre­juízos para as cri­anças); en­quanto se man­ti­verem ele­vados os custos com a ha­bi­tação, as cre­ches, os trans­portes, a edu­cação ou a saúde; en­quanto não se me­lhorar os di­reitos de ma­ter­ni­dade e pa­ter­ni­dade, e en­quanto não se tomar me­didas con­cretas de com­bate e er­ra­di­cação da po­breza in­fantil (que não está des­li­gada da po­breza dos pais e das fa­mí­lias) com uma mais justa dis­tri­buição da ri­queza, não estão ga­ran­tidos os di­reitos das cri­anças.

Sobre todas estas ma­té­rias o PCP tem in­ter­vindo na As­sem­bleia da Re­pú­blica com pro­postas con­cretas. Tendo sido apro­vado uma pro­posta para a cri­ação de um Pro­grama Ex­tra­or­di­nário de com­bate à Po­breza In­fantil, bem como a ela­bo­ração anual de um Re­la­tório sobre a si­tu­ação da in­fância em Por­tugal, o PCP exi­girá o cum­pri­mento desta re­so­lução.

O PCP bater-se-á, na es­pe­ci­a­li­dade, pela apro­vação da sua pro­posta de cri­ação da Co­missão Na­ci­onal para os Di­reitos das Cri­anças e Jo­vens – que pre­tende criar um es­paço ins­ti­tu­ci­onal de aná­lise per­ma­nente e con­ti­nuada sobre as cri­anças e a sua re­a­li­dade –, bem como das pro­postas de alar­ga­mento das li­cenças de ma­ter­ni­dade e pa­ter­ni­dade e re­forço da pro­tecção das mu­lheres grá­vidas, puér­peras e lac­tantes e de tra­ba­lha­dores no gozo de li­cença pa­rental.

O PCP apre­sentou me­didas de re­forço das Co­mis­sões de Pro­tecção de Cri­anças e Jo­vens com o ob­jec­tivo de me­lhorar as con­di­ções e efi­cácia da sua in­ter­venção, propôs o alar­ga­mento da rede de cre­ches e equi­pa­mentos de apoio à in­fância, bem como a exis­tência de uma rede pú­blica de cre­ches e de­fendeu a uni­ver­sa­li­zação do abono de fa­mília.

A ampla e con­ti­nuada in­ter­venção do PCP tem pre­ten­dido alargar di­reitos e criar con­di­ções para o seu cum­pri­mento.

Im­porta que os di­reitos con­sa­grados em lei saltem do papel para a vida quo­ti­diana de todas as cri­anças no país.

O PCP cá es­tará para fazer essa luta, com a sua acção e in­ter­venção, para que seja as­se­gu­rado às cri­anças o di­reito a ser cri­anças e o di­reito a ser fe­lizes.




Mais artigos de: Argumentos

Os empecilhos

Como lhe cumpre, a TV informou-nos de que os senhorios dos apartamentos arrendados discordam de qualquer norma legal que os impeça de despejarem inquilinos com mais de 65 anos de idade. Nada mais justo: com 65 anos ou mais, os cidadãos ou cidadãs estão perfeitamente capazes de descerem dos andares que até então ocupavam...

Ferreira de Castro e o realismo social

Se vivo, Ferreira de Castro (1898/1974) faria, a 24 de Maio, 120 anos. A sua pujante obra romanesca, iniciada aos 18 anos com o romance Criminoso por Ambição, faz a transição entre o naturalismo de pendor humanista, de finais do século XIX (João Grave, Albino Forjaz de Sampaio, Manuel Ribeiro,...