Couço lembra 60 anos de greve histórica contra a burla eleitoral fascista

HO­ME­NAGEM A Junta de Fre­guesia do Couço evocou no sá­bado, 23, os 60 anos da greve contra a burla elei­toral fas­cista e reabriu ao pú­blico a bi­bli­o­teca que in­tegra parte do es­pólio bi­bli­o­grá­fico de José Ca­sa­nova.

Es­tamos na mesma luta de classe, pela li­ber­dade e pela de­mo­cracia

Apresar do in­tenso calor que se fez sentir du­rante toda a tarde, nas ini­ci­a­tivas pro­mo­vidas pela J.F. do Couço es­ti­veram cerca de uma cen­tena de pes­soas, entre as quais muitos dos que vi­veram aqueles dias de he­róica luta an­ti­fas­cista.
Con­vi­dado pela au­tar­quia a fazer a in­ter­venção cen­tral da evo­cação da greve de 1958 no Couço, ini­ciada jus­ta­mente a 23 de Junho, em nome do PCP, Carlos Gon­çalves, da Co­missão Po­lí­tica do CC, co­meçou por su­bli­nhar a im­por­tância destas evo­ca­ções ci­tando Álvaro Cu­nhal, para quem «me­mo­riar o pas­sado dis­tante e re­cente, mas não apenas me­mo­riar, co­me­morar, é (tem de ser) uma forma de in­tervir e lutar no pre­sente e de pers­pec­tivar com con­fi­ança a luta fu­tura».
In­ter­vindo na an­tiga praça da jorna pe­rante uma mol­dura hu­mana que se abri­gava sob a fo­lhagem da pér­gola e no co­reto, Carlos Gon­çalves re­alçou, em se­guida, que aquela ímpar jor­nada de re­sis­tência tem só­lidas bases na «im­plan­tação local do Par­tido» e nas lutas do pro­le­ta­riado rural e do pe­queno cam­pe­si­nato de­sen­ca­de­adas no início da dé­cada de 40. Não é pois de es­tra­nhar que em 1958 ali se tenha re­a­li­zado «o único co­mício da opo­sição de­mo­crá­tica numa al­deia do País», no caso do can­di­dato de­mo­crá­tico Ar­lindo Vi­cente, antes deste acordar em de­sistir para unir todas as forças an­ti­fas­cistas no apoio à can­di­da­tura do ge­neral Hum­berto Del­gado.

He­roísmo
Ora, no Couço, Hum­berto Del­gado ob­teve mais de 80 por cento dos votos, tendo o povo im­posto aos far­santes fas­cistas o con­trolo e a con­tagem dos bo­le­tins.
Con­fron­tados com a burla ao nível na­ci­onal, ex­plicou ainda Carlos Gon­çalves, no Couço as­sumiu-se a pa­lavra de ordem do PCP de «greve contra a fraude elei­toral», jor­nada que ad­quiriu um ca­rácter in­sur­rei­ci­onal pese em­bora a GNR e a PIDE te­nham re­for­çado os efec­tivos e, na vés­pera, te­nham feito «pri­sões para in­ti­midar».
«Foi uma grande vi­tória. Os agrá­rios fu­giram do Couço. A greve con­ti­nuou nos dias se­guintes con­ver­gindo com im­por­tantes lutas ope­rá­rias na in­dús­tria e dos tra­ba­lha­dores agrí­colas em muitas lo­ca­li­dades do Sul do País», e «apesar da ocu­pação do Couço por 300 mi­li­tares da GNR e de­zenas de Pides», das «mais de 60 pri­sões, in­cluindo 13 mu­lheres, dos es­pan­ca­mentos e fe­ridos, dos tiros e per­se­gui­ções», re­latou.
Daí que, re­cordou ainda o membro da CP do PCP, Álvaro Cu­nhal tenha es­crito em o «Rumo à Vi­tória», que terras como o Couço «soam aos ou­vidos das classes tra­ba­lha­doras como nomes de campos de ba­talha contra a ex­plo­ração ca­pi­ta­lista e só­lidas for­ta­lezas dos tra­ba­lha­dores e do seu Par­tido».
«Nos 60 anos da grande greve de 1958 no Couço, aqui es­tamos na mesma luta dos nossos ca­ma­radas desse em­pol­gante e he­róico com­bate de classe, pelos ideais» e «com a mesma na­tu­reza de Par­tido dos tra­ba­lha­dores, a mesma iden­ti­dade e pro­jecto co­mu­nista», con­cluiu.

Dar vida aos li­vros
pelo di­reito à cul­tura

O se­gundo mo­mento de co­me­mo­ração da grande greve de 1958 no Couço con­sistiu na re­a­ber­tura da bi­bli­o­teca da Junta de Fre­guesia à po­pu­lação e, com ela, a dis­po­ni­bi­li­zação de parte do es­pólio bi­bli­o­grá­fico de José Ca­sa­nova, que na sua terra ini­ciou o seu per­curso de mi­li­tante do seu Par­tido, o PCP, de de­di­cação à causa dos tra­ba­lha­dores e do povo. Usando da pa­lavra em nome da au­tar­quia, Or­te­linda Graça, acom­pa­nhada de mem­bros dos órgão au­tár­quicos lo­cais, agra­deceu às en­ti­dades e au­tarcas pre­sentes, à de­le­gação do PCP, à «fa­mília, que muito nos alegra cá estar», e a toda a po­pu­lação par­ti­ci­pante, e lem­brou que nos li­vros a que agora é pos­sível aceder «en­con­tramos o per­curso de vida do “Zé”», no­tando, além do mais, que tendo a mai­oria dos vo­lumes sido ofe­re­cidos ao di­ri­gente co­mu­nista, re­vela como «era fácil ser [seu] amigo».
Sobre o es­pólio, a edil sa­li­entou tratar-se de uma «vasta» e «abran­gente» co­lecção acu­mu­lada por José Ca­sa­nova, também ele es­critor com obra pu­bli­cada, e onde, como não po­deria deixar de ser, so­bres­saem o amor e de­di­cação ao PCP, o seu par­tido de sempre, tendo em «Álvaro Cu­nhal e na sua obra» uma «fi­gura in­con­tor­nável».
«A me­lhor ho­me­nagem que po­demos prestar ao “Zé” é dar vida a estes li­vros através da sua lei­tura e da as­si­mi­lação dos en­si­na­mentos neles con­tidos», disse ainda Or­te­linga Graça, que antes de ex­plicar su­cin­ta­mente o pas­sado, o pre­sente e o pro­jecto de fu­turo que a au­tar­quia tem para a ex­pansão da bi­bli­o­teca, in­sistiu em va­lo­rizar «um filho desta terra, José Ca­sa­nova, que doou parte do seu es­pólio bi­bli­o­grá­fico à hu­milde bi­bli­o­teca da J.F. do Couço, con­tri­buindo, assim, para o seu en­ri­que­ci­mento».
Ter­mi­nada a sessão, os pre­sentes pu­deram ex­plorar o es­paço e tac­tear os li­vros, sendo evi­dente nas con­versas de­sen­ca­de­adas como nos si­lên­cios que a gra­tidão não é uma pa­lavra vã.
Uma de­le­gação do PCP cons­ti­tuída por mem­bros da Di­rec­cção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de San­tarém e dos or­ga­nismos exe­cu­tivos do Co­mité Cen­tral acom­pa­nhou o con­junto das co­me­mo­ra­ções dos 60 anos da greve de 1958 no Couço contra a burla elei­toral fas­cista.




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