Informação em fora-de-jogo

Estamos em tempo de Mundial de Futebol e o espaço mediático virou atenções para a Rússia. Se fosse apenas para acompanhar a vertente desportiva do torneio, esta coluna nada teria a acrescentar: mas o Campeonato do Mundo vai muito além das bolas que entram ou não na baliza.

Não que os nossos jornais, rádios e televisões se venham debruçando sobre o fenómeno de mercantilização de tudo o que cheira a Mundial pela FIFA e seus parceiros, dos jogadores em prova aos próprios símbolos nacionais. Pelo contrário, os media dominantes têm aproveitado as últimas semanas para, à boleia de preconceitos de vária espécie, visar países participantes na prova, com particular destaque para a anfitriã, a Federação Russa.

Vimos, ouvimos e lemos várias peças sobre os custos «megalómanos» ou «faraónicos» das obras de preparação para o torneio que, aliás, nem são novas. Mas, sintomaticamente, estas surgem com mais força sempre que um grande torneio desportivo internacional se realiza fora do «Ocidente». Como se a Alemanha pudesse receber um Mundial de Futebol, mas a África do Sul, o Brasil ou a Rússia não. Como se em Portugal não tivéssemos também estádios de milhões desocupados praticamente todo o ano.

Mas até as questões laterais ao torneio vão borda fora com uma rapidez assinalável. Num instante, estamos a ler sobre a propaganda russa, culpada da destruição da Síria, do Brexit, da eleição de Donald Trump, da ascensão da extrema-direita em vários países da União Europeia ou do envenenamento de um agente britânico que recuperou milagrosamente e de quem nunca mais se ouviu.

No entanto, é difícil de entender a eficácia de tal propaganda quando recebemos outra, noutro sentido e de forma tão avassaladora. A título de exemplo, veja-se a polémica em torno das declarações de uma deputada russa sobre o risco de crescimento do número de mães solteiras, imediatamente transformadas em afirmações xenófobas.

A promoção do «inimigo externo» é feita com o habitual duplo critério da imprensa. Os mesmos que bradem pela «invasão» da Crimeia pela Rússia, fingem que a ocupação do Saara Ocidental por Marrocos não existe. Critica-se as violações dos direitos das mulheres no Irão, onde há uma liga de futebol feminino desde 2008; a Arábia Saudita é celebrada por permitir que as mulheres conduzam. As linhas traçadas na Síria servem de guia para o tratamento mediático.

Mas por baixo da camada de russofobia (e outras fobias), surge uma outra ofensiva que vai buscar referências passadas para alimentar o antisovietismo. Do «Ronaldo no País dos Sovietes» da SIC ao «Assalto ao Kremlin» da RTP, é montada toda uma ofensiva anticomunista que vai até a referências aparentemente inocentes às cidades onde os jogos decorrem. Surgem generalizações preconceituosas sobre o povo russo e a «herança soviética». Fazem-se comentários sobre Sochi, a «estância de férias dos ditadores», de Estaline a Putin.

Sabemos que à boleia do futebol é dado tempo de antena a figuras de maior ou menor destaque na política de direita que, travestidos de especialistas no jogo, se vêem mediaticamente promovidos. Em tempos de Mundial, a máquina não pára.




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