Entendimento?

Filipe Diniz

Au­gusto Santos Silva (Pú­blico, 12.07.2018) opina sobre o que seria um en­ten­di­mento fu­turo com o PCP e o BE. O ac­tual en­ten­di­mento com o PCP é li­mi­tado às ques­tões mais ur­gentes dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País, e cor­res­pondeu a vi­a­bi­lizar uma al­ter­na­tiva que re­ti­rasse PSD e CDS do go­verno. Pre­ci­sa­mente porque o PS não tem mai­oria, per­mitiu al­guns re­sul­tados. E a mi­noria PS no Go­verno não deixou de votar com PSD e/​ou CDS em as­pectos que são de con­ti­nui­dade com o rumo po­lí­tico vindo de trás. A lista é longa, e ainda agora teve nova ex­pressão no ataque ao tra­balho na «con­cer­tação so­cial».

Em vez de tal en­ten­di­mento mí­nimo e em parte por con­cre­tizar, Santos Silva fala de um en­ten­di­mento má­ximo: «ter­ri­tório, am­bi­ente, tran­sição ener­gé­tica, po­lí­tica eco­nó­mica e também na po­lí­tica ex­terna e eu­ro­peia». Diz que «o PS aprendeu bas­tante».

É um des­ta­cado di­ri­gente do PS e mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros. In­sere-se numa li­nhagem de dé­cadas em re­lação à qual existe uma jus­ti­fi­cada dú­vida: são ob­jecto de apro­vação prévia da em­bai­xada dos EUA, ou são sim­ples­mente in­di­cados por ela. E quer este homem um en­ten­di­mento sobre «po­lí­tica ex­terna e eu­ro­peia».

Vejam-se in­ter­ven­ções só deste ano. Em muitos casos, temos a sen­sação de ouvir um me­mo­rando da Casa Branca, da NATO ou de Bru­xelas. Seja sobre a Síria («armas quí­micas»), ou a Ve­ne­zuela («la­men­tável» a forma como de­cor­reram as elei­ções de 20.04), ou a Rússia (desde a «ane­xação da Cri­meia» ao «aci­dente de Sa­lis­bury»), seja na ma­ni­fes­tação da mais acrí­tica fi­de­li­dade à NATO, ao seu pro­cesso de de­sen­vol­vi­mento mun­dial («a NATO con­tinua a ser a es­tru­tura de de­fesa co­lec­tiva in­dis­pen­sável para pro­teger os nossos ci­da­dãos») e à in­dis­so­ciável com­ple­men­ta­ri­dade NATO/​UE fe­de­ra­lista e mi­li­ta­ri­zada.

Seja o que for que tenha «apren­dido», Santos Silva está na mesma.

 



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