Será...?!

Henrique Custódio

Na sua vi­sita à Eu­ropa, quando Trump se sentou na ca­deira de Winston Chur­chill a ma­ca­quear poses de Es­tado levou os bri­tâ­nicos aos arames, como soe dizer-se, com mais de 100 mil pes­soas nas ruas em pro­testo só ma­ni­fes­tado, na fleu­má­tica Lon­dres, em oca­siões de es­cân­dalo na­ci­onal pro­fundo.

É claro que não foi apenas por isso que o povo saiu à rua. Diga-se, em rigor, que os bri­tâ­nicos - que tão in­fla­ma­da­mente ex­pu­seram o seu re­púdio pela vi­sita, a po­lí­tica e o es­tilo do Pre­si­dente dos EUA – foram os únicos, na Eu­ropa (in­cluindo todos os seus di­ri­gentes po­lí­ticos), a ma­ni­festar avul­ta­da­mente a re­pulsa pelo pre­si­dente de uma su­per­po­tência que, «por pen­sa­mentos, pa­la­vras e obras» (como dizem os cris­tãos), há muito que cris­ta­lizou na con­dição bá­sica de Cri­a­tura.

Aliás, a vi­sita do Pre­si­dente dos EUA, Do­nald Trump, à NATO, aos di­ri­gentes da União Eu­ro­peia e da Grã-Bre­tanha foi mais um passo em frente na aqui­es­cência já pa­to­ló­gica da UE ao trilho de alar­vi­dades que ca­rac­te­riza esta ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana.

As ma­ni­fes­ta­ções em Lon­dres ti­nham a en­cimá-las, pai­rando no ar, um gi­gan­tesco bébé-Trump in­su­flável e bir­rento, ma­gis­tral ri­di­cu­la­ri­zação da Cri­a­tura. Era uma ca­ri­ca­tura do que fora pro­ta­go­ni­zado por Trump nesta vi­sita, pen­du­lando sempre entre dois actos co­nexos: afirmar e des­mentir o que afirmou, re­du­zindo al­var­mente o ob­jecto dos «des­men­tidos» a «fake news» atri­buídas aos jor­na­listas que, bor­re­ga­mente, con­ti­nuam a re­gistar e trans­mitir todas as alei­vo­sias que a Cri­a­tura de­bita.

Só dois exem­plos, na vi­sita.

Na reu­nião da NATO em Bru­xelas fez chan­tagem di­recta, exi­gindo aos seus «ali­ados» que «au­men­tassem de ime­diato para 4%» os gastos com a De­fesa, sob a ameaça de re­tirar os EUA da ali­ança mi­litar que, aliás, os pró­prios or­ga­ni­zaram no pós-guerra para «com­bater o co­mu­nismo». A se­guir de­clarou-se um «de­fensor con­victo» da NATO, gabou-se de os «ali­ados» terem su­bido para 2% as fu­turas des­pesas mil­tares e con­verteu a reu­nião ca­tas­tró­fica num «su­cesso», onde os di­ri­gentes da UE aqui­es­ceram, ca­bis­baixos, aos dis­lates da Cri­a­tura.

No Reino Unido, deu uma en­tre­vista ao ta­blóide Sun acu­sando a pri­meira-mi­nistra The­resa May de es­tragar o «Brexit» para, de se­guida, acusar o jornal de pro­duzir «fake news», apesar deste re-pu­blicar as afir­ma­ções que a Cri­a­tura havia pro­du­zido.

Já fez ca­minho a clas­si­fi­cação de Trump como «men­ti­roso com­pul­sivo», mas o pro­blema vai muito além. Ele mente de­li­be­ra­da­mente.


 



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