Prioridade aos actos

Rui Fernandes

 



Muitos que emi­graram em busca de uma vida me­lhor não a en­con­traram

Ca­mi­nhar apesar da dis­tância;

Vencer apesar dos obs­tá­culos;

so­nhar apesar das de­si­lu­sões;

sorrir apesar das an­gús­tias;

acre­ditar acima de tudo.

autor des­co­nhe­cido

 

Paulo Pisco, de­pu­tado do PS, viu pu­bli­cado um ar­tigo (jornal Pú­blico de 12/​6) com ti­tulo «Pri­o­ri­dade ao re­gresso dos que emi­graram». O tema é in­te­res­sante e pena é que o de­pu­tado do PS nada adi­ante sobre con­teúdos con­cretos. E isto não é coisa de so­menos. É que Pisco foi até o pri­meiro subs­critor, como faz questão de afirmar, da moção sobre este tema apre­sen­tada ao Con­gresso do PS e, por­tanto, seria su­posto que a Moção não fosse uma mera afir­mação de in­ten­ções vagas para emi­grante es­cutar.

É que os emi­grantes já ou­viram de Paulo Pisco ao longo dos anos bytes de pa­la­vras e sabem bem o con­teúdo con­creto das mesmas. Aliás, o mesmo se pode dizer do de­pu­tado do PSD Carlos Gon­çalves. A ambos, com pro­pri­e­dade, se aplica a frase de Ni­etzsche: «A van­tagem de ter pés­sima me­mória é di­vertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a pri­meira».

Não temos dú­vida de que o Go­verno lan­çará umas quantas me­didas com esse ob­jec­tivo, tal como o PSD/​CDS lançou o pro­grama VEM. O pro­blema é que nin­guém vem porque vem. Aliás, é muito cu­rioso que os que apa­recem me­di­a­ti­ca­mente a falar do In­te­rior não te­nham adi­an­tado ne­nhum pro­grama di­ri­gido aos mi­lhares de con­ci­da­dãos do In­te­rior que dele ti­veram de sair para a emi­gração por au­sência de con­di­ções para ali cons­truirem as suas vidas.

Seria en­tre­tanto muito in­te­res­sante, e ne­ces­sário, que os pro­blemas dos emi­grantes co­me­çassem a ter res­postas claras, cé­leres e que re­al­mente lhes fosse posto fim. Desde logo a si­tu­ação dos muitos que, emi­grando à pro­cura de uma saída para a sua vida, não a en­con­traram e vivem hoje em si­tu­a­ções muito pre­cá­rias de vida e de­pen­dentes de ac­ções so­li­dá­rias. De­pois que fosse posto fim ao pa­ga­mento de pro­pina para o en­sino de por­tu­guês e nas di­fi­cul­dades em que tro­peçam muitos con­ci­da­dãos para re­solver os seus pro­blemas nos con­su­lados; que fosse lan­çado no mundo das artes e da li­te­ra­tura, pro­gramas de pro­moção dos muitos ta­lentos na­ci­o­nais es­pa­lhados um pouco por todo o mundo, o que pro­mo­veria si­mul­ta­ne­a­mente a língua e cul­tura por­tu­guesas.

Co­e­rência e per­sis­tência
Cada vez mais ne­ces­sário é for­ma­lizar ca­nais efi­cazes de acom­pa­nha­mento da si­tu­ação dos muitos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses que estão a ver as suas con­di­ções la­bo­rais e so­ciais com­pro­me­tidas com as po­lí­ticas de re­tro­cesso em de­sen­vol­vi­mento em vá­rios países e agir no plano di­plo­má­tico. O mesmo se co­loca no que res­peita ao im­pacto nas co­mu­ni­dades do re­vi­go­ra­mento da xe­no­fobia e ra­cismo, porque está longe da re­a­li­dade quem pense que isso não se faz sentir junto dos por­tu­gueses.

Neste con­texto, é bom lem­brar que o PCP propôs, no âm­bito do OE para 2018, a re­vo­gação da pro­pina no en­sino de por­tu­guês no es­tran­geiro, o au­mento das verbas para o Con­selho das Co­mu­ni­dades e a cor­recção da so­bre­tri­bu­tação em IRS dos tra­ba­lha­dores da rede ex­terna, tudo pro­postas chum­badas pela con­ver­gência de votos do PS, PSD e CDS. Como diz o povo «é aqui que a porca torce o rabo», não é de­pu­tado Paulo Pisco?

O PCP está como sempre co­e­ren­te­mente es­teve: in­ter­vindo, agindo e pro­pondo o que me­lhor de­fende e dá res­posta aos pro­blemas dos por­tu­gueses que vivem e tra­ba­lham no es­tran­geiro.

 



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