Agosto

Correia da Fonseca

Tem sido o pleno mês de Agosto, a cha­mada «silly se­ason» em por­tu­guês con­tem­po­râneo, e as re­dac­ções dos di­versos ca­nais de TV dão si­nais de di­fi­cul­dade para en­con­trar con­teúdos. Por vezes chegam-lhes apoios, di­gamos assim: morre um su­jeito muito rico, o que, porque o era, pro­move o fa­le­ci­mento a no­tícia pro­lon­gada, ou um homem muito sábio na sua área, o que obriga a no­tícia atenta ao seu cur­rí­culo. É certo que o fu­tebol já re­gressou, se é que al­guma vez es­teve au­sente, mas os te­le­no­ti­ciá­rios não es­pe­ci­al­mente «des­por­tivos», isto é, fu­te­bo­leiros, não podem viver muitos mi­nutos a falar-nos da «bola»: é pre­ciso deixá-la para os lon­guís­simos pro­gramas com que são pre­en­chidos os se­rões dos ca­nais ditos es­pe­ci­al­mente in­for­ma­tivos. De onde o re­gresso aos fogos, des­graças que per­mitem horas e horas de re­por­ta­gens e seus de­ri­vados que são muitos e nem sempre bac­te­ri­o­lo­gi­ca­mente puros, mas desde Mon­chique que não acon­tecem in­cên­dios flo­res­tais de in­ten­si­dade bas­tante para abas­te­cerem te­le­jor­nais e seus pa­rentes pró­ximos. Pelo que, em ma­ni­festo es­tado de ne­ces­si­dade, al­guns ca­nais re­cor­reram à trans­missão de ima­gens de in­cên­dios já fe­liz­mente ven­cidos mas que, ao sur­girem nos ecrãs dos nossos te­le­vi­sores ainda que apenas como fundo da imagem por de­trás das fi­guras dos apre­sen­ta­dores, podem de­volver aos te­les­pec­ta­dores um pouco das emo­ções sen­tidas quando se tra­tava de mos­trar in­cên­dios em plena pu­jança.

Os sub­sí­dios vo­lá­teis

Ainda assim, porém, há es­ca­pa­tó­rias para esta pe­núria no­ti­ciosa, e uma delas é a re­por­tagem nas praias, ge­ral­mente nas do Al­garve mas agora também nas praias flu­viais que têm vindo a surgir no in­te­rior do país pre­su­mi­vel­mente graças à acção das au­tar­quias. Aliás, isto das praias flu­viais que per­mitem «idas à praia» a po­pu­la­ções que há dé­cadas atrás nem se­quer so­nhavam poder ir a ba­nhos es­ti­vais po­derá ser mais um ganho a ins­crever no ac­tivo do poder au­tár­quico. Para lá disto, porém, há uma área de re­por­ta­gens pos­sí­veis que está com­ple­ta­mente aban­do­nada e que, con­tudo, seria de im­por­tância pri­mor­dial para o co­nhe­ci­mento da re­a­li­dade: os dias de quem está em fé­rias por le­gí­timo di­reito e força de lei mas em ver­dade «não tem fé­rias» no sen­tido em que a ex­pressão sig­ni­fica um anual pu­nhado de dias em que pa­rece pos­sível um quo­ti­diano di­fe­rente e mais feliz. A te­le­visão nem so­nhará dispor-se a contar-nos como são os dias dos que estão em fé­rias mas não podem dar-se ao luxo de gastar o sub­sídio de fé­rias em custos com elas, as fé­rias, porque é ne­ces­sário aplicá-lo no pa­ga­mento de dí­vidas en­tre­tanto con­traídas. E menos ainda a te­le­visão se dispõe a contar-nos como são as «fé­rias» dos des­pe­didos. Em sín­tese, di­gamos que a te­le­visão nem se­quer tenta dar-nos uma imagem com­pleta e séria de como são, neste Agosto es­cal­dante, as fé­rias de uma enorme parte dos por­tu­gueses. E é uma pena que não o faça.




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