Ainda há tempo!
Em política externa, Bolsonaro alinha com EUA e Israel
Domingo os brasileiros vão votar. A recta final da campanha eleitoral é marcada por uma ainda maior radicalização do discurso de Bolsonaro, que aposta numa constante instigação ao ódio e à violência dos seus apoiantes e em ameaças abertas contra os defensores da democracia, ao mesmo tempo que se recusa a debater qualquer ideia ou programa com Haddad ou recebe a «bênção» de seitas como a IURD.
Num discurso emitido por vídeo-chamada para um acto em São Paulo, Bolsonaro demonstrou até onde está disposto a ir. Ameaçou de expulsão do país, ou de prisão, «os marginais vermelhos» que «serão banidos da nossa pátria»; dirigiu-se ao ex-presidente Lula da Silva e a Haddad, afirmando que «vão apodrecer na cadeia»; ameaçou ilegalizar organizações não-governamentais numa «limpeza nunca vista na história do Brasil»; considerou o Movimento dos Sem Terra como uma organização com «actividade terrorista», que «ou se submetem ou vão fazer companhia ao cachaceiro de Curitiba»; e ainda teve tempo para ameaçar de encerramento ou estrangulamento financeiro órgãos de comunicação social como a Folha de São Paulo, que divulgou o «Caixa 2», ou seja, o financiamento ilegal da campanha de Bolsonaro por grandes empresas para pagar a propagação de mensagens nas redes sociais.
A ideia de «umas forças armadas activas» no futuro do Brasil, afirmada e repetida insistentemente por Bolsonaro, e declarações de sectores da extrema-direita militar, como a do General Ajax Pinheiro, que reeditou recentemente o discurso do golpe militar de 1964, são, a par com as declarações de um dos filhos de Bolsonaro, ameaçando o sistema judicial com intervenção militar, altamente elucidativas sobre quais os reais projectos da candidatura fascista.
Mas as consequências da chegada ao poder das forças por detrás de Bolsonaro não se limitariam a uma deriva ditatorial militarizada, num retrocesso cultural e civilizacional ou numa deriva ultraliberal, privatizadora e profundamente anti-social. Apesar de o seu programa ser parco em questões de política externa, também nesta área é possível identificar um projecto muito perigoso para o Brasil, a América Latina e o Mundo. As suas duas primeiras prioridades são EUA e Israel.
Confirmando a sua íntima ligação com o sionismo e o lobby israelita, Bolsonaro apelida a Autoridade Palestiniana de «terrorista», tendo afirmado a intenção de encerrar a Embaixada da Palestina em Brasília, uma vez que «a Palestina não é um País». Relativamente à América Latina pretende inverter o caminho que o Brasil percorreu na construção da paz e da cooperação latino-americana e avança com ameaças várias, nomeadamente com a agressão militar à Venezuela, alinhando com a administração Trump, que à medida que se aproximam as eleições no Brasil, aumenta as ameaças dessa possibilidade.
Tudo está em aberto para dia 28. Mas uma coisa é certa: o caminho iniciado com o Golpe contra Dilma Rousseff já pariu um monstro que, independentemente dos resultados, não vai desistir de amarrar o Brasil aos círculos mais reaccionários e belicistas do imperialismo e com isso empurrar a América Latina para um futuro de incerteza e grandes perigos. Mas ainda há tempo para derrotar a besta fascista!