Vale tudo
O povo britânico decidiu há mais de dois anos, por maioria, num referendo com uma participação superior a 70%, que o Reino Unido deveria sair da União Europeia. A campanha foi um desfile de chantagens, ingerências, e ameaças apocalípticas. Apesar disso, o povo britânico decidiu sair e foi activado o Artigo 50.º que define um período de dois anos para as negociações do chamado «divórcio».
Ora o «divórcio» está a ser negociado por duas partes que defendem exactamente os mesmos interesses de classe, o grande capital. Portanto, e como era de esperar, as negociações estão a ser tudo menos um processo respeitador da vontade do povo britânico e muito menos dos seus interesses. Pelo contrário, o processo negocial foi meticulosamente gerido para atacar vários direitos laborais e sociais, transformar a saída num calvário e para conduzir a uma situação que possa ser explorada para vender a tese de que afinal o povo britânico está «arrependido» da decisão tomada.
O arsenal ideológico e de desinformação está a ser todo desembainhado com esse fim. O discurso apocalíptico foi reinventado e o referendo apresentado com um produto da ingerência russa e das «fake news», um perigo igual a Trump ou Bolsonaro, associado ao perigo da extrema-direita, escondendo-se as diferentes visões existentes naquele País sobre o caminho para a saída da União Europeia. A campanha de subversão da vontade do povo britânico está em curso. E vale tudo! Desde a propagação exaustiva de declarações e acções dos que «pedem» o segundo referendo, até à inenarrável notícia de uma cadeia de ginásios britânicos que possibilita aos seus clientes «chateados com o “Brexit”» dar murros em sacos de boxe com fotos de políticos, «não interessa quais». Descer mais baixo na estupidificação dos povos é difícil. Mas lá está… vale tudo para condicionar o exercício livre da soberania. E é isso que alimenta a extrema-direita.