Ideologia ambiente

Vasco Cardoso

A re­cente pre­sença de um nazi em dois pro­gramas de en­tre­te­ni­mento da TVI, um dos quais com a de­li­be­rada pro­moção de uma ini­ci­a­tiva de apoio a Sa­lazar é, a todos os tí­tulos, ab­jecta. A crí­tica pú­blica de que tal pro­grama foi alvo é não só justa como também ne­ces­sária. Mas feito o re­gisto, im­porta ava­liar se se trata de um caso iso­lado ou se, por outro lado, es­tamos na pre­sença de uma di­nâ­mica mais geral que en­volve os prin­ci­pais ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial onde o bran­que­a­mento e a pro­moção das ideias fas­ci­zantes e re­ac­ci­o­ná­rias é mais larga.

Na ver­dade, a pro­moção e va­lo­ri­zação destas con­cep­ções não se faz apenas dando palco a cri­mi­nosos. Nos dias que correm, uma parte subs­tan­cial da pro­gra­mação – seja sob a forma de en­tre­te­ni­mento, seja sobre a forma de uma pseudo in­for­mação – está im­preg­nada de con­cep­ções e ideias que se afastam dos va­lores de Abril. Exem­plos não faltam. Ainda re­cen­te­mente ti­vemos a ampla pro­moção da ini­ci­a­tiva dos ditos co­letes ama­relos, cujo al­cance me­diá­tico, com o grau de con­cer­tação que evi­den­ciou, en­volveu os prin­ci­pais cen­tros de de­cisão do grande ca­pital e os meios de co­mu­ni­cação so­cial ao seu ser­viço. Di­a­ri­a­mente, as­sis­timos a horas e horas de pro­gra­mação as­sente na ex­plo­ração até ao pus de crimes quo­ti­di­anos com a «jus­tiça» a ser feita em di­recto nos ecrãs da TV. Os fe­nó­menos da cor­rupção são, em geral, ex­plo­rados não para de­nun­ciar as con­sequên­cias da po­lí­tica de di­reita, com des­taque para as pri­va­ti­za­ções, mas para achin­ca­lhar o re­gime de­mo­crá­tico, atacar a As­sem­bleia da Re­pú­blica e co­locar a po­lí­tica e os par­tidos todos dentro do mesmo saco. Os apelos a sen­ti­mentos ra­cistas e xe­nó­fobos surgem muitas vezes sem qual­quer dis­farce e alarga-se o nú­mero de ditos co­men­ta­dores e ana­listas cujo papel é não mais do que o da pro­moção quer dessas fi­guras – even­tu­al­mente com ob­jec­tivos elei­to­rais – quer desses va­lores e con­cep­ções.

No fundo pro­curam, por via de uma vi­o­lenta ofen­siva ide­o­ló­gica – também no plano in­ter­na­ci­onal -, dar lastro à pro­moção do po­pu­lismo e de ob­jec­tivos an­ti­de­mo­crá­ticos que visam sub­verter o re­gime de­mo­crá­tico e dar novos passos no pro­cesso contra-re­vo­lu­ci­o­nário que têm por ina­ca­bado. Tudo isto, num ano em que se co­me­mora o 45.º ani­ver­sário do 25 de Abril. Ta­refa árdua aquela que temos pela frente!




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