A ausência em Caracas

Ângelo Alves

Nicolas Ma­duro toma hoje posse como Pre­si­dente da Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela. Foi eleito em Maio de 2018 com quase 6 mi­lhões de votos. No pas­sado dia 10 de De­zembro re­a­li­zaram-se as elei­ções mu­ni­ci­pais. As forças que apoiam a re­vo­lução bo­li­va­riana con­quis­taram 90% dos con­se­lhos mu­ni­ci­pais. As elei­ções foram re­a­li­zadas num quadro de boi­cote e sa­bo­tagem eco­nó­mica e de uma es­tra­tégia da di­reita re­ac­ci­o­nária e fas­cista e do im­pe­ri­a­lismo, de de­ses­ta­bi­li­zação e vi­o­lência. Em 20 anos o pro­cesso bo­li­va­riano re­a­lizou 25 elei­ções e vá­rios re­fe­rendos. É um dos pro­cessos po­lí­ticos mais es­cru­ti­nado pelo voto em todo o Mundo. Todas as elei­ções con­taram com ob­ser­vação in­ter­na­ci­onal. Pela sua trans­pa­rência e or­ga­ni­zação o sis­tema elei­toral ve­ne­zu­e­lano foi elo­giado vá­rias vezes por or­ga­ni­za­ções in­ter­na­ci­o­nais.

A Ve­ne­zuela é um im­por­tante par­ceiro co­mer­cial de Por­tugal, é um grande país, com im­por­tantes re­cursos, tem laços his­tó­ricos pro­fundos com Por­tugal e uma das mai­ores co­mu­ni­dades de emi­grantes por­tu­gueses. Por­tugal marcou pre­sença na to­mada de posse de Bol­so­naro. A in­vo­cação das re­la­ções de Es­tado com o Brasil e a im­por­tância da co­mu­ni­dade emi­grante Por­tu­guesa de­ter­mi­naram, se­gundo o pró­prio Pre­si­dente da Re­pú­blica, a de­cisão da pre­sença em Bra­sília. No caso da Ve­ne­zuela acrescem a essas mesmas duas ra­zões o facto de este País estar a ser alvo de ame­aças vá­rias, in­cluindo de agressão mi­litar, no­me­a­da­mente por parte da Ad­mi­nis­tração Trump e do Go­verno de Bol­so­naro.

A de­cisão do Go­verno e do Pre­si­dente da Re­pú­blica de Por­tugal de não se fa­zerem re­pre­sentar em Ca­racas, e de se es­con­derem por de­trás da União Eu­ro­peia, é um acto de ab­di­cação na­ci­onal, de hi­po­crisia di­plo­má­tica, ob­jec­ti­va­mente de ali­nha­mento com o im­pe­ri­a­lismo. E isso é gra­vís­simo, porque con­trário ao que de­ter­mina a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica.




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