Operação golpista

Pedro Guerreiro

A de­sin­for­mação é aliada dos gol­pistas

A re­cente frus­trada in­ten­tona gol­pista na Ve­ne­zuela, pro­ta­go­ni­zada pela ex­trema-di­reita e apoiada pela Ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana de Trump, foi acom­pa­nhada de uma mo­nu­mental cam­panha de de­sin­for­mação e men­tira, pro­fu­sa­mente fo­men­tada por ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial e ‘jor­na­lis­tas’ que se exi­biram – no­me­a­da­mente em Por­tugal – como au­tên­ticos cúm­plices e mesmo ac­tivos co­la­bo­rantes do golpe.

Um coro de de­sin­for­mação que não he­sita na uti­li­zação da fal­si­dade para tentar man­char a le­gi­ti­mi­dade po­pular e cons­ti­tu­ci­onal do poder bo­li­va­riano, che­gando a afirmar que foi um «golpe mi­litar que levou Hugo Chávez ao poder, em 1998» (Pú­blico, 1.5.2019) ou que «os elei­tores es­co­lheram o líder da opo­sição Juan Guaidó nas elei­ções de Ja­neiro» deste ano (CNN, 6.5.2019), exem­plos do imenso cor­tejo de tra­paças e pro­pa­ganda de guerra.

Com o mesmo em­penho, os arautos da de­sin­for­mação ocultam cui­da­do­sa­mente a acção de de­ses­ta­bi­li­zação; as vi­o­lentas ten­ta­tivas de golpe; o de­su­mano boi­cote, açam­bar­ca­mento e es­pe­cu­lação; a brutal acção ter­ro­rista e a sa­bo­tagem, in­cluindo do sis­tema de for­ne­ci­mento eléc­trico e de abas­te­ci­mento de água; a ten­ta­tiva de iso­la­mento po­lí­tico e di­plo­má­tico; as cri­mi­nosas san­ções e blo­queio eco­nó­mico e fi­nan­ceiro; e a ameaça de agressão mi­litar – através das quais a Ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana de Trump e a ex­trema-di­reita pro­curam agravar a si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial da Ve­ne­zuela e que­brar a de­ter­mi­nação e a re­sis­tência do povo ve­ne­zu­e­lano.

Na ver­dade, os que en­chem hi­po­cri­ta­mente a boca com as pa­la­vras ‘li­ber­dade’, ‘de­mo­cra­cia’ e ‘di­rei­tos’, ali­nhados com Trump e a ex­trema-di­reita, são cúm­plices do mais vi­o­lento des­res­peito e agressão à li­ber­dade, à de­mo­cracia, aos mais ele­men­tares di­reitos do povo ve­ne­zu­e­lano. Aqueles que apelam à in­ter­venção mi­litar dos EUA e seus mer­ce­ná­rios, à guerra de agressão contra a Ve­ne­zuela – como faz Guaidó, Lopéz e seus com­parsas – não podem ver­da­dei­ra­mente de­fender a li­ber­dade, a so­be­rania, a de­mo­cracia, os di­reitos do seu povo.

Aliás, só pode ser cí­nica a exi­gência de re­a­li­zação de elei­ções ‘li­vres’ e ‘jus­tas’ a um país que nos úl­timos 20 anos re­a­lizou 25 actos elei­to­rais, com uma ampla e livre par­ti­ci­pação po­pular – apesar, por vezes, do boi­cote da ex­trema-di­reita pa­tro­ci­nada pelos EUA – e que é neste mo­mento ví­tima de uma vi­o­lenta ope­ração de in­ge­rência e de­ses­ta­bi­li­zação e guerra eco­nó­mica.

É, pois, in­de­co­rosa a pos­tura adop­tada pelo Go­verno por­tu­guês de não de­mar­cação e cúm­plice ali­nha­mento no bran­que­a­mento da acção gol­pista da ex­trema-di­reita ve­ne­zu­e­lana e da cri­mi­nosa es­ca­lada de in­ge­rência, blo­queio e agressão contra a Ve­ne­zuela le­vada a cabo pelos EUA, em clara vi­o­lação do di­reito in­ter­na­ci­onal e que tanto dano pro­cura causar ao povo ve­ne­zu­e­lano, assim como à co­mu­ni­dade por­tu­guesa que vive neste país.

A Ve­ne­zuela bo­li­va­riana en­frenta um brutal blo­queio eco­nó­mico e fi­nan­ceiro, uma or­ques­trada cam­panha de in­trigas, chan­ta­gens e ame­aças, uma acção gol­pista que afronta a sua ordem cons­ti­tu­ci­onal, que visa sub­meter a Ve­ne­zuela ao do­mínio ne­o­co­lo­nial dos EUA.

A so­li­da­ri­e­dade com as forças bo­li­va­ri­anas e o povo ve­ne­zu­e­lano e a sua luta em de­fesa da Re­vo­lução bo­li­va­riana e da so­be­rania da sua pá­tria é mais pre­mente que nunca.




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