À boleia de Berardo

Vasco Cardoso

O País as­sistiu, entre o choque e a in­cre­di­bi­li­dade, às de­cla­ra­ções de Joe Be­rardo pe­rante a Co­missão Par­la­mentar de Inqué­rito à CGD. O tom jo­coso das suas res­postas fun­ci­o­naram como um ras­tilho para o justo sen­ti­mento de re­volta de quem não se con­forma pe­rante ta­manha im­pu­ni­dade. E houve quem não per­desse tempo a tentar en­con­trar um novo bode ex­pi­a­tório para todos os males da banca, ou, me­lhor ainda, para todos os males do banco pú­blico. Nada de novo! Quantos e quantos em­pre­en­de­dores, não pas­saram de bes­tiais a bestas quando dei­xaram de ser úteis a de­ter­mi­nados in­te­resses. Ri­cardo Sal­gado é um exemplo re­cente, mas há mais.

Temos por isso boas ra­zões para temer que o es­tar­da­lhaço pú­blico que ecoou na mai­oria dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial não tenha pro­pri­a­mente como mo­ti­vação a res­pon­sa­bi­li­zação das forças e op­ções po­lí­ticas que per­mi­tiram que se che­gasse aqui. Be­rardo gozou com o povo por­tu­guês de uma forma ina­cei­tável. Mas quem pri­va­tizou os bancos que Be­rardo quis com­prar? Quem criou as re­gras e as leis que lhe per­mi­tiram co­locar todo o seu pa­tri­mónio a salvo das suas dí­vidas? Quem apro­fundou e de­sen­volveu a cha­mada livre cir­cu­lação de ca­pi­tais? Quem de­signou su­ces­sivas ad­mi­nis­tra­ções da CGD à margem do in­te­resse pú­blico? Sobre tudo isto, PS, PSD e CDS as­so­biam para o ar. Há que salvar o sis­tema!

Se­gundo o Eu­rostat, nos úl­timos dez anos, foram gastos em Por­tugal mais de 20 mil mi­lhões de euros de re­cursos pú­blicos, só para tapar os bu­racos da es­pe­cu­lação e da cor­rupção na banca. Re­cursos que foram sis­te­ma­ti­ca­mente ne­gados quando se tratou de subir sa­lá­rios, re­co­nhecer di­reitos, me­lhorar ser­viços pú­blicos, di­na­mizar o in­ves­ti­mento. É assim que a União Eu­ro­peia impõe, com a sub­ser­vi­ência co­nhe­cida de su­ces­sivos go­vernos. Uma es­tra­tégia de con­cen­tração mo­no­po­lista em todos os sec­tores, com des­taque para a banca que de na­ci­onal, só lhe resta neste mo­mento a Caixa, essa mesmo que Be­rardo co­locou agora nas bocas do mundo. Porque será?




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