Não se fala da Europa?

Vasco Cardoso

Na grelha que predominou a cobertura por parte dos principais órgãos de comunicação social, surgiu a tese de que nestas eleições, pouco ou muito pouco, se falou da Europa. Não se percebe exactamente o que significaria «falar da Europa» para muitos destes comentadores e jornalistas. O que se percebe, isso sim, é que este foi sendo, ao longo das últimas semanas, mais um expediente para meter todos dentro do mesmo saco, lançar o habitual clima de suspeição sobre a intervenção política, desvalorizar, quer as eleições, quer o conteúdo próprio com que cada força política se apresentou perante os eleitores.

Descontada a recorrente, mas não inocente, mistificação com que procuram confundir Europa com União Europeia - duas realidades distintas e não coincidentes que requereria uma abordagem mais profunda que aqui não cabe – importa esclarecer que a CDU, não só não fugiu ao tema como procurou ligar a realidade com que os trabalhadores e o povo português se confrontam em Portugal com as decisões tomadas no Parlamento Europeu e as opções, a natureza e o rumo que a União Europeia comporta.

Percebemos, no entanto, a fuga aos temas centrais que envolvem a União Europeia, designadamente, por parte de PS, PSD e CDS. Como explicariam estes o seu posicionamento siamês na aprovação dos tratados que «autorizam» as sanções contra Portugal? Como justificariam seu enfeudamento às regras do Euro que impõe o corte cego no investimento, nos salários e serviços públicos? Como assumiriam sua apologia das liberalizações e privatizações de sectores estratégicos que têm vindo a «desnacionalizar» a economia portuguesa e a agravar a dependência? Ou o seu silêncio perante o abate de embarcações de pesca, o encerramento de explorações agrícolas, o desmantelamento de indústrias estratégicas para o País? Ou o seu voto favorável à progressiva redução de fundos comunitários e mesmo do número de deputados portugueses no PE? De facto para PS, PSD e CDS, «falar da Europa» implicaria confessar a sua idêntica submissão aos grandes interesses, expondo aquilo que tanto trabalho tem dado a esconder!




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