Do FMI para o BCE

Filipe Diniz

O pre­en­chi­mento dos altos cargos na UE mos­trou vá­rias coisas. Uma delas é que o grande ca­pital está com falta de qua­dros. Ch­ris­tine La­garde foi no­meada pre­si­dente do BCE, vinda do FMI. Terá ocor­rido a al­guns o seu an­te­cessor na­quela ins­ti­tuição, Do­mi­nique Strauss-Kahn. Ambos andam por cargos da maior res­pon­sa­bi­li­dade nas ins­ti­tui­ções do ca­pital mo­no­po­lista e ambos ti­veram uns pro­blemas com a jus­tiça.

O juntá-los nestas li­nhas tem mais a ver com o que aí pode vir. DS-K foi di­rector do FMI no auge da crise que eclodiu em 2008. Apa­dri­nhou a po­lí­tica de in­jectar li­quidez nos bancos e de aplicar «aus­te­ri­dade» aos povos. Agora re­co­nhece que se trata de «uma po­lí­tica ba­si­ca­mente de­li­neada para res­gatar o sis­tema fi­nan­ceiro, e que serve por­tanto as pes­soas mais ricas do pla­neta». E que o ca­pi­ta­lismo con­tinua in­capaz de lidar com a pró­xima crise. (https://​www.the­local.fr/​20180909/​world-un­pre­pared-for-next-fi­nan­cial-crisis-ex-imf-chief-strauss-kahn).

O grande ca­pital não an­dará longe dessa opi­nião, e será essa a razão da no­me­ação de CL – con­victa de­fen­sora dos mesmos meios – para o BCE. Fa­lando da Grécia, mas também de Por­tugal, diz CL: «a con­sequência de per­tencer a uma união mo­ne­tária é perder um ins­tru­mento contra a re­cessão. Não pode re­correr-se à des­va­lo­ri­zação, como podem fazer os países fora dessa união. […] Por­tanto tens que re­cu­perar a pro­du­ti­vi­dade de duas formas: tratas dos custos uni­tá­rios do tra­balho […] e me­lhoras o con­junto da eco­nomia re­es­tru­tu­rando-a […]». (https://​high­line.huf­fing­ton­post.com/​ar­ti­cles/​en/​la­garde-in­ter­view/). Fa­lando claro: dentro do euro, a saída só pode ser au­mentar a ex­plo­ração e pri­va­tizar.

Há por­tanto isto a re­gistar: o ca­pi­ta­lismo sabe que é ine­vi­tável nova crise, e co­loca os seus peões nos lu­gares apro­pri­ados.




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