Projecto com memória versus saudosismo

Manuel Rodrigues

Segundo in­for­mação da Di­recção-Geral do Pa­tri­mónio Cul­tural (DGPC), num pe­ríodo de três meses e cinco dias, as ins­ta­la­ções do fu­turo Museu Na­ci­onal da Re­sis­tência e da Li­ber­dade, na For­ta­leza de Pe­niche, já foram vi­si­tadas por 50 mil pes­soas. E, acres­centa a DGPC, este mo­vi­mento não dá mostra de abrandar uma vez que du­rante o mês de Julho se re­gis­taram 20 832 vi­sitas.

Ao mesmo tempo, fi­cámos a saber que, pelas mãos da CM de S. Comba Dão, vai abrir a se­guir ao Verão no Vi­mi­eiro (fre­guesia onde nasceu Sa­lazar) um museu, cu­ri­o­sa­mente de­no­mi­nado «Centro In­ter­pre­ta­tivo do Es­tado Novo», para aco­lher o es­pólio do di­tador como pre­texto para a exal­tação do pró­prio fas­cismo.

A URAP (União de Re­sis­tentes An­ti­fas­cistas Por­tu­gueses), cuja in­ter­venção foi de­ci­siva para que o pro­jecto de apro­vei­ta­mento tu­rís­tico pre­visto para a For­ta­leza de Pe­niche fosse der­ro­tado e, em seu lugar, avan­çasse o Museu da Re­sis­tência e Li­ber­dade – papel de­ci­sivo que já ti­vera para que der­ro­tada fosse igual­mente a pri­meira ten­ta­tiva (em 2007) de cri­ação do Museu Sa­lazar – re­pu­diou fron­tal­mente a ati­tude da CM de Santa Comba Dão, ao mesmo tempo que se con­gra­tulou pela ex­tra­or­di­nária afluência ao Museu Re­sis­tência e Li­ber­dade.

Não é pre­ciso ne­nhum «centro in­ter­pre­ta­tivo» para per­ceber o que ver­da­dei­ra­mente move os pro­mo­tores dos dois pro­jectos an­ta­gó­nicos: uns, usam a me­mória e lutam para que a his­tória avance, que é o mesmo que dizer, para dar res­posta aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País, ob­jec­tivo que não é con­cre­ti­zável sem li­ber­dade, de­mo­cracia e so­be­rania; ou­tros, de­se­josos de re­aver os pri­vi­lé­gios do pas­sado, tudo fazem para fazer a his­tória andar para trás, mesmo que para tanto te­nham que exibir o pincel da barba, as ce­roulas ou quiçá o pe­nico (cer­ta­mente ele­mentos do es­pólio) de Sa­lazar.

E porque es­tamos em cima de uma im­por­tante ba­talha elei­toral, é bom lem­brar que para avançar é pre­ciso dar mais força à CDU!




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