Venezuela resiste!

Ângelo Alves

«Será pre­ciso muito mais que um mag­nata su­pre­ma­cista em cam­panha elei­toral, ou um falcão guer­reiro tres­lou­cado, ob­ses­sivo e de­ses­pe­rado para não perder o seu em­prego, para des­truir a obra li­ber­ta­dora ini­ciada pelo li­ber­tador Simón Bo­livar e re­to­mada no Sé­culo XXI pelo co­man­dante Hugo Chávez». Foi nestes termos que a Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela re­agiu em termos ofi­ciais à nova es­ca­lada da Ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana contra a Ve­ne­zuela e o seu povo por via de uma ordem Exe­cu­tiva de Trump que eleva ao má­ximo o blo­queio eco­nó­mico, co­mer­cial e fi­nan­ceiro contra a Ve­ne­zuela.

A de­cisão dos EUA apro­funda todas as me­didas de ten­ta­tiva de as­fixia eco­nó­mica da­quele país so­be­rano, com con­sequên­cias di­rectas em ques­tões como ali­men­tação, for­ne­ci­mento de me­di­ca­mentos, água ou energia. De­fine o con­ge­la­mento (na prá­tica um roubo) de todos os ac­tivos e bens ve­ne­zu­e­lanos nos EUA, no­me­a­da­mente da em­presa pe­tro­lí­fera es­tatal PDVSA e da sua fi­lial, a CITGO. Es­ta­be­lece um vasto con­junto de san­ções contra em­presas, en­ti­dades e in­di­ví­duos ve­ne­zu­e­lanos. Dá sequência a vá­rias san­ções, no­me­a­da­mente contra em­presas de trans­porte ma­rí­timo, que fazem com que, por exemplo, es­tejam neste mo­mento blo­que­adas cerca de 25 mil to­ne­ladas de ali­mentos no Canal do Pa­namá. E, à se­me­lhança da fa­mi­ge­rada Lei Helms Burton, as­sume o ca­rácter ex­tra­ter­ri­to­rial das san­ções (ilegal à luz do di­reito in­ter­na­ci­onal) vi­sando todas as em­presas e in­di­ví­duos que man­te­nham re­la­ções, co­mer­ciais e ou­tras, com a Ve­ne­zuela.

O ob­jec­tivo é claro: blo­quear as re­la­ções eco­nó­micas, co­mer­ciais e fi­nan­ceiras da Ve­ne­zuela, criar o caos eco­nó­mico e so­cial na­quele País e por essa via con­se­guir o su­ces­si­va­mente der­ro­tado golpe de Es­tado, co­lo­cando a Ve­ne­zuela sob a ba­tuta dos EUA. Este acto de guerra e de ter­ro­rismo eco­nó­mico é ele pró­prio um li­belo acu­sa­tório da di­reita gol­pista ve­ne­zu­e­lana e dos go­vernos que a apoiam e/​ou di­rigem. O facto de a di­reita gol­pista não ter cum­prido com­pro­missos no âm­bito das ne­go­ci­a­ções de Oslo de so­li­citar aos EUA o le­van­ta­mento das san­ções eco­nó­mica, e de a reu­nião do Grupo de Lima (onde es­teve o Go­verno por­tu­guês) ter na prá­tica acei­tado, ou pelo menos to­le­rado, o blo­queio, são mais uma prova que os seus ob­jec­tivos não são a de­fesa dos di­reitos e con­di­ções de vida do povo ve­ne­zu­e­lano.

Mas a Ve­ne­zuela bo­li­va­riana re­siste e não está só. A jor­nada mun­dial contra o blo­queio à Ve­ne­zuela; a ma­ni­fes­tação de mais de um mi­lhão de ve­ne­zu­e­lanos em Ca­racas; e os 13 mi­lhões de as­si­na­turas que, só na Ve­ne­zuela, foram re­co­lhidas para exigir à ONU con­de­nação do ilegal blo­queio, são exem­plos de de­ter­mi­nação e re­sis­tência. No plano ex­terno, Cuba, Rússia, China e Tur­quia de­ci­diram não par­ti­cipar na re­cente reu­nião do Grupo de Lima como forma de pro­testo. Si­mul­ta­ne­a­mente, a Ve­ne­zuela de­sen­volve vá­rias li­nhas de re­la­ci­o­na­mento in­ter­na­ci­onal que irão con­tra­riar os efeitos do blo­queio, como o re­cente acordo com a China vi­sando o re­forço da pro­dução de pe­tróleo. É ver­dade que es­tamos pe­rante uma vi­o­lenta e cri­mi­nosa ofen­siva contra a Ve­ne­zuela e em geral contra os povos da Amé­rica La­tina. Mas também é ver­dade que há ca­pa­ci­dade de re­sis­tência e até avanços. Assim o in­dica a pe­sada der­rota de Macri nas elei­ções pri­má­rias na Ar­gen­tina. A luta con­tinua, e exige toda a nossa so­li­da­ri­e­dade!




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